sábado, 18 de outubro de 2008

Paulo Baldaia no JN

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Se fosse no tempo de Santana Lopes...

O Orçamento do Estado para 2009 está apresentado e sabemos que está também aprovado, embora não tenha ido ainda a votos. E a melhor crítica que se ouviu a este documento foi também o seu melhor elogio.
"É um orçamento expansionista", lemos na imprensa especializada, dizendo o que a Oposição mal pode dizer porque a crise lhe roubou o slogan há muito preparado: "É um orçamento eleitoralista". Até os aumentos para os funcionários públicos seguem em frente sem grandes ondas.
O Orçamento tem uma atenção especial com as PME, não sobrecarrega as famílias e dá apoios para os mais carenciados. À Direita e à Esquerda, pediu--se mais ou exigiu-se menos - mais apoios ou menos impostos.
Desconfio que se não houvesse crise, haveria na mesma as dezenas de propostas que agradam a uns ou a outros. Afinal, as legislaturas também servem para desapertar o cinto antes das eleições. Sempre foi assim, sempre será. Como dizia, na TSF, Domingues Azevedo, presidente da Câmara de Técnicos Oficias de Contas, "se este é um orçamento eleitoralista, é pena que não haja eleições todos os anos".
O Governo, liderado por José Sócrates, assegura que com estas contas quer evitar que Portugal entre em recessão, coisa que está quase a acontecer nas grandes economias por esse mundo fora. E se a gripe dos outros acabar por nos pôr de cama também, parecem estar criadas as condições para não ficarmos por lá muito tempo.
Sócrates tem com ele bons ministros, como Vieira da Silva ou Teixeira dos Santos. Arrisco dizer que, com o próprio primeiro-ministro, eles são o esteio deste Executivo. Sem eles, este Governo seria bem mais fraco. Mais fraco na governação, mas também na comunicação. É por isso também que custa muito a perceber o 'flop' que foi a apresentação do Orçamento nos dias 14 e 15 de Outubro.
Problemas informáticos são coisas que acontecem em todo o lado. Na TSF também! Mas a trapalhada do Orçamento não foi informática, foi política. Na pressa de entregar o documento um dia antes do previsto, preferiram fazê-lo aos bochechos, com o barulho das luzes centrado nos atrasos e na falta de documentos, do que adiar para o dia seguinte. Foi um erro político que deu no que deu.
Não vale a pena, sequer, perder muito tempo a lembrar a imagem desta apresentação muito peculiar, foi coisa que as televisões levaram a todo o país. A máquina, a poderosa máquina que todos diziam existir em São Bento, falhou. E foi porque nunca tinha falhado desta forma, em matéria de comunicação e imagem, que a surpresa foi maior. Mas já passou. Não deixará grandes marcas porque a crítica mais vezes feita a este Governo é a de que tem uma poderosa máquina de propaganda, que é o mesmo que dizer que não costuma falhar na comunicação.
Agora, imaginem que tudo se tinha passado com o governo de Santana Lopes. Teria sido chamado ao presidente da República para explicar o sucedido, as manchetes dos jornais teriam sido a trapalhada da apresentação e as televisões e as rádios teriam feito debates sobre o assunto.
Não é que o devessem ter feito agora, porque o assunto não vale tanto, mas que a Santana ninguém perdoava nada, lá isso é verdade.
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