quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

UMA CARTA DO PORTO - Por José Magalhães (265)





S. Pedro Fins de Ferreira

      








A história de Sanfins de Ferreira brota dos seus castros, das suas moedas e aras romanas, das suas sepulturas suévicas, dos seus topónimos e das suas lendas mouras, dos seus registos no Livro de Mumadona, das suas Vila Colina e Vila Cova, do seu Couto e do seu Mosteiro, dos conflitos entre as Dioceses (Braga e Porto), das suas referências na 1ª inquirição régia (1220), dos seus fidalgos e cavaleiros (Ferreira), da sua Igreja (S. Félix), da sua Honra de Nuno Álvares Pereira, da sua Comenda (Ordem de Cristo), do seu 1º comendatário (D. Miguel da Silva, Cardeal da Santa Sé), dos seus frescos renascentistas, do seu Tombo no Foral da Honra de Sobrosa, do Tombo da sua Igreja e Comenda, das suas casas e dos seus solares brasonados, das Revoluções Liberais.

(Prof. Doutor Ricardo Pereira in "O Santo de uma Terra: Sanfins de Ferreira")






 
Sanfins de Ferreira, também conhecida como São Pedro Fins de Ferreira ou simplesmente Sanfins, é uma freguesia do concelho de Paços de Ferreira, com 6,53 km² de área e 3 139 habitantes (censo de 2011).


No seu território situa-se um dos mais importantes povoados castrejos da Península Ibérica, a Citânia de Sanfins, a Casa de Vila Cova, o Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, o Solar dos Brandões (1722 – nobilitada com pedra de armas concedida em 1775) e, encontrava-se aqui o Cruzeiro Templário, que dá vida ao brasão do próprio município.

O nome de S. Fins de Ferreira tem uma raiz e um sentido histórico muito profundo: os ferreiros moravam na Citânia e foram descendo para as terras mais próximas das fontes e das nascentes. Há ainda o antigo topónimo de Ferreira, lugar pegado à Fervença, onde brota uma das nascentes do Rio Ferreira.




A Igreja


A Igreja (São Félix - Santo Felice) será mais antiga do que a entrada dos mouros na Península Ibérica. Desse tempo Suévico-Visigótico (século VII), nas imediações da “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”, há memórias e registos da existência de sepulturas escavadas na rocha. Ainda antes da fundação de Portugal, nos tempos dos condes (976), há certezas da existência de frades e as referências (Trastina) a São Cibrão, cuja capela viria, mais tarde (Inquirições 1258), a pertencer ao rei. Da Idade Média há também o pequeno cemitério e a capela de S. Romão, lá no alto da Citânia. 





A Igreja de Santo Felice, Vila Cova e Vila Colina são referidos no livro de Mumadona Dias, na segunda metade de séc. X, onde descreve as posses que tem nos territórios de Ferreira. Do território de Sanfins de Ferreira diz possuir bens em "Villa Colina" e em "Villa Cova".

Nos inícios dos anos de 1500, a Igreja foi transformada em Comenda da Ordem de Cristo, tendo por comendatário o Escrivão da Puridade e humanista Cardeal da Santa Sé, D. Miguel da Silva. No registo da reitoria (1525) é referida como sendo esta a “Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira”. É ainda no decorrer dos meados deste século XVI que a Igreja de São Pedro Fins de Terra de Ferreira terá sido objeto de grandes obras, tendo-se realizado notáveis frescos, dos quais ainda restavam há poucos anos alguns fragmentos no “arco triunfal do lado da Epístola e do lado do Evangelho”. Esta Igreja e Comenda da Ordem de Cristo, com bens que se estendiam até Meixomil, Lamoso, Raimonda e Santa Maria de Negrelos, incluindo a ermida no alto do monte (São Romão), pertenceu sempre a grandes senhores do reino.

As lutas durante as Revoluções Liberais, assim como o fora durante a Guerra da Restauração provocaram estragos na Igreja. Não se sabendo o estado em que esta terá ficado, sabe-se que, sobre a porta da entrada principal da antiga Igreja de São Pero Fins de Ferreira está uma inscrição que diz ter sido reedificada, em 1865.


A Citânia


A Citânia de Sanfins é uma das principais estações arqueológicas da Península Ibérica. 








O edifício destinado aos banhos públicos destaca-se, do conjunto arqueológico da Citânia, pela sua técnica e aparato e por possuir a “Pedra Formosa da Citânia de Sanfins”. 





A Citânia de Sanfins localiza-se quase na sua totalidade na freguesia de Sanfins de Ferreira. É uma das mais importantes zonas arqueológicas da civilização castreja na Península Ibérica. Surgiu por volta do século I a.C. e ocupa uma área de cerca de 15 hectares, numa colina integrada numa zona de montanhas de afloramentos graníticos, num local estratégico entre a região do Douro e do Minho.

Há vestígios da ocupação do local da Citânia, desde o século V antes de Cristo, embora a grande cidade tenha sido a do tempo dos Calaicos, criada entre os séculos II e I a.C.

Nessa época, estima-se que tenham lá vivido três mil pessoas, uma população que vivia essencialmente de trabalhar o ferro, com grande vocação guerreira, ficando outras actividades económicas, como a agricultura, a cargo de outros castros dos arredores, dela dependentes.

A Citânia possui mais de cento e cinquenta construções de planta circular e rectangular, agrupadas em cerca de quarenta conjuntos de unidades familiares. Há alguns anos foi restaurado um núcleo familiar, hoje, devido a vandalismo e à falta de conservação, em completa ruína. 





Era a cidade-sede de uma região mais vasta, que abrangia as actuais Valongo, Maia e Penafiel, e onde estava o poder político e militar. Os Romanos acabariam por lá chegar, poucos anos antes do nascimento de Cristo.

Os primeiros estudos desta Citânia devem-se aos historiadores Francisco Martins Sarmento e Leite de Vasconcelos. As escavações iniciaram-se em 1944 e prolongaram-se por mais de cinquenta anos.


O Museu


O Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, está situado em terrenos do Solar dos Brandões, ao lado da Igreja de S. Félix. 




Nesses terrenos existiam dois imponentes cedros cujos nascimentos remontavam (?) ao início da nossa nacionalidade. Hoje resta um, pobre a desajeitado, se bem que ainda imponente. Durante cerca de trezentos anos (há quem diga que muitos mais) foram tratados com desvelo pelos proprietários, transformando-os em casos únicos a nível mundial. Um deles, o que ainda vive, tinha o formato de casa, com porta, janelas e bancos no seu interior. Há perto de 60 anos, por falecimento do proprietário, foram os terrenos doados à Câmara Municipal de Paços de Ferreira com a obrigação de manterem e cuidarem dos cedros. Em poucas dezenas de anos, a incúria matou um e destruiu o outro.




O Museu foi fundado em 18 de Outubro de 1947, e solenemente inaugurado em 14 de Janeiro de 1984, após aquisição de todo o conjunto, casa, Museu e terrenos, pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira. Remodelado em 1995, a área de exposição ocupa o edifício principal do Solar. Uma visita ao Museu, e à Citânia, decididamente a não perder, ajudará a compreender a vida dos povos que habitaram a Citânia durante mais de mil anos, a partir da segunda metade do primeiro milénio A.C.

Sanfins, hoje








  






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