domingo, 29 de setembro de 2013

O PORTO É ASSIM

O PORTO É ASSIM!

A cidade do Porto é um encanto. Está repleta de atractivos patrimoniais e gastronómicos e tem uma luz e uma atmosfera únicas. Para além disso, o Porto possui uma riqueza inestimável, talvez até a mais importante de todas, os seus habitantes.

A zona histórica é Património Mundial da Humanidade e é a cidade que dá nome ao nosso País e a um dos mais famosos vinhos do mundo, o Vinho do Porto.

A cidade do Porto foi escolhida pelo New York Times como um dos locais a visitar em 2013. Foi de igual modo escolhida, pelo Lonely Planet, como o melhor de entre dez destinos de férias da Europa em 2013. E o Huffington Post destacou o Porto e o Rio Douro como um dos melhores destinos fluviais Europeus, e o destaque, imagine-se, veio em primeiro lugar.

Por isto, e muito mais, o que espera para nos conhecer melhor?

A Arte em Alta na Baixa

Foi um fim de semana importante para a cidade, este de 20, 21 e 22 de Setembro. Tiveram lugar a terceira sessão do Urban Market na novíssima Praça das Cardosas, e a abertura das novidades de Arte Contemporânea das Galerias de Miguel Bombarda, para além dos mais variados eventos que se espalham quotidianamente pelo Porto.

Se as exposições em Miguel Bombarda são já um acontecimento habitual, sendo somente de realçar a continuada qualidade das mesmas e o contínuo crescimento dos visitantes, tanto nas inaugurações como no dia-a-dia, a festa da Praça das Cardosas é ainda de existência recente, mas já possui uma popularidade digna de nota.

A Praça das Cardosas é a mais recente Praça do Porto, tendo recebido este nome devido ao novo Hotel Intercontinental (Luxo) que se instalou no Palácio das Cardosas, em cujas traseiras esta Praça se encontra. É uma praça linda, arejada e meio privada, melhor dizendo, privada e de acesso público, com um parque de estacionamento por baixo e escondida de olhares menos atentos. Tem várias entradas, sendo que a mais importante, se assim se puder dizer, fica virada para a fachada da Estação de São Bento.

Urban Market na Praça das Cardosas

O evento (Urban Market), organizado pela Portugal Lovers, vai já na sua terceira edição nas Cardosas, e realiza-se no penúltimo fim de semana de cada mês. Cada edição é diferente da anterior, e única, combinando artes com música e com gastronomia, com animações para todos os gostos, entre espectáculos de música, exposições, mercados e provas de vinho e petiscos. Tudo muito colorido, tudo muito divertido, a confirmar a excelência da Praça enquanto sala de estar, e o quanto é bom viver o Porto.

Fui até lá na sexta-feira e também no Domingo (o Urban Market realiza-se sempre entre Sexta-feira e Domingo) e durante umas duas horas de cada vez deambulei por entre as bancas, sem pressa alguma de sair.

Falei com o simpatiquíssimo Silvino, jovem empresário que tem uma banca de Gomas, Doces & Vitaminas Nutrally, sem adição de açucar, feitas para todos incluindo os mais pequenos, conversei com o artesão sr António Lisboa da Ourivesaria Lisboa, que me mostrou, entre outras coisas uns mini-óculos e um mini-triciclo em prata, feitos ali mesmo na banca, e em que tudo trabalha, desde as hastes dos óculos ao guiador e aos pedais do triciclo, apreciei o trabalho New Wave dos cabeleireiros Anjos Urbanos, bebi vinho do Porto, quase me tentei com o shushi, toquei nas roupas, olhei as plantas, provei os gelados da Sou Sweet, experimentei os berloques e bebi vinho a copo no meio de um mar de gente linda e bem humorada e ao som de música que os Dj’s de serviço nos ofereciam.

O próximo Urban Market (Rock) é já no dia 29 de Setembro, e vai realizar-se no Hard Club. Depois, Em Outubro e em Novembro, o regresso está marcado para a Praça das Cardosas.

Urban Market - Palácio das Cardosas
Urban Market – Palácio das Cardosas

Inauguração das Exposições de Arte em Miguel Bombarda

A Rua de Miguel Bombarda é a rua, por excelência, das Galerias de Arte. Começou a sê-lo já há mais de 5 anos, e o seu prestígio vai subindo em flecha. Lamentavelmente não é, ainda, uma zona pedonal, apesar de estar previsto sê-lo no projecto de requalificação elaborado no ano 2000.  A rua conta também com hostals, restaurantes, bares, livrarias e várias lojas de mobiliário retro-cool, de decoração alternativa, design, moda, música e outras tendências de comércio. É uma das ruas da cultura da nossa cidade.

Com cada uma das variadas exposições de uma espectável e habitual qualidade irrepreensível, o dia de Sábado ficaria manchado (para mim) pelo aproveitamento político de candidatos à Presidência da Câmara da cidade. Com abertura prevista para as 16h., e com a esperada enchente (já por lá andava muita gente à hora aprazada para o começo), pouco passava das 16h30 quando chegou o primeiro trazendo consigo meia dúzia de pessoas, precedido de bombos e panfletos e acompanhado de promessas, sorrisos, cumprimentos e beijos.

Esperando o pior quanto à qualidade e quantidade dos que se iriam, por certo, seguir, retirei-me!

Voltarei para visitar cada uma das galerias da rua num dos próximos dias, esperando que a semana das eleições autárquicas passe,  já que só tive oportunidade de entrar numa, a Ap’Arte Galeria, após ter bebido um chá, sublime, na Rota do Chá.

MIGUEL BOMBARDA
MIGUEL BOMBARDA

Família Desce à Rua

Ainda este mês, no próximo Domingo, 29, é dia de a Família Descer À Rua. Este evento traz à rua das Galerias de Paris, artesãos, numa feira de artesanato urbano, onde se podem encontrar prendas originais para pessoas muito especiais, elaboradas por novos criadores.

Se o tempo o permitir, passem por lá que por certo se não arrependerão.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

TESOUROS ESCONDIDOS NA CIDADE DO PORTO

Tesouros escondidos na cidade

No Porto, a Arte está por toda a parte.

Nesta cidade que encanta quem a visita, podemos encontrar uma obra de arte ao dobrar de uma qualquer esquina ou no interior de um largo escondido e não publicitado.

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Foi o que me aconteceu por um feliz acaso. Na minha decisão de conseguir ir à Muralha Fernandina, de cuja entrada não sabia a localização, descobri-a.

Sabia da sua existência, mas não da sua qualidade. Sabia que estaria perto da Muralha, mas não sabia o local exacto.

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Igreja do Convento de Santa Clara

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Entrei e fiquei quase sem respiração com tamanha beleza. É uma das igrejas mais bonitas que tive o privilégio de visitar, aqui na minha cidade ou em outro qualquer lugar do mundo.

Convém ir até lá sem qualquer pressa, pois que muito há para apreciar e alegrar os sentidos.

Verdadeira jóia do Barroco, impressiona pela sua exuberância decorativa e pela extraordinária combinação entre a talha dourada e o azul, e está situada no Largo de Primeiro de Dezembro, escondida dos olhares dos passantes comuns e da grande maioria dos habitantes do burgo. Só lá vai quem sabe (a grande maioria dos visitantes são os turistas estrangeiros que a encontram referenciada nos roteiros), deslocando-se a esta igreja de propósito para a apreciar, deleitando-se. É uma das principais igrejas Portuenses forradas a ouro.

A construção do Convento feminino de Santa Clara data da primeira metade do séc. XV (1416) e a igreja ficou concluída em 1457.

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Depois de saciados os sentidos, saí da igreja e parti à procura da entrada escondida para a Muralha Fernandina. Não estava longe. Era logo ali ao virar da esquina, mesmo ao lado e por cima da Porte Luiz I.

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Muralha Fernandina

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O acesso até é fácil, embora secretamente escondido e fechado à chave fora do horário normal do expediente do Ministério da Saúde, ex-Instituto Ricardo Jorge, que por ali tem umas instalações.

A Muralha Fernandina (Cerca Nova, porque substituiu a antiga Cerca Medieval, e Muralha Gótica eram outros nomes que se davam à cintura Medieval que outrora existiu), concluída por volta de 1437 no reinado de El Rei D. Fernando, é parte integrante da história do Porto, é uma parte inevitável da paisagem portuense, e é também, hoje em dia, um dos mais bonitos miradouros da cidade Invicta. Debruçada sobre o Douro, a ponte D. Luís e os trilhos do Funicular, oferece a quem tem a felicidade de lá ir, uma vista fantástica sobre as cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia.

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Há ainda outro local escondido, entre muitos outros por certo, na cidade do Porto. Mas este estando também à vista de toda a gente, e sabendo-se perfeitamente por onde entrar, só por lá podem circular os jardineiros e os pássaros que por ali abundam. Trata-se de um novo jardim da cidade, o Jardim das Oliveiras.

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Jardim das Oliveiras

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Situado por cima do Passeio dos Clérigos, teve o seu nascimento aquando da requalificação da Praça de Lisboa há muito pouco tempo.

Outrora um centro comercial degradado, o Passeio dos Clérigos é agora um espaço agradável e cheio de vida e de movimento e está situado muito próximo de um dos centros de maior interesse da noite Portuense.

O jardim, para onde foram transplantadas oliveiras centenárias, poderia ser um complemento ideal para quem andasse por ali, mas não é permitida a sua utilização pelos munícipes.

Irá ser sempre assim, ou o novo Presidente da Câmara (acaba por ser inevitável falar no assunto) vai olhar com outros olhos para este espaço?

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domingo, 15 de setembro de 2013

CULTURA AO AR LIVRE


Cultura ao ar livre

 

1ª Avenida - Jazz - PORTO
1ª Avenida – Jazz – PORTO
Um pouco antes das nove horas da noite do dia 6 de Setembro deste ano de 2013, saí de casa depois de ter jantado. Dirigi-me para o centro da cidade. Estranhamente, ou talvez não, foi difícil arranjar lugar para estacionar. Depois de algumas voltas dei com um lugar já um pouco longe da Avenida dos Aliados, que era o meu destino. Ao longo dos minutos que levei a andar até chegar, fui vendo cada vez mais gente a pé, indo na mesma direcção que eu.
Faltavam três minutos para as nove e meia quando a Avenida se me deparou. Cheia de luz e, cheia de gente.
A Câmara do Porto e a Casa da Música apresentavam um concerto único de Jazz com a Orquestra de Jazz de Matosinhos e o guitarrista Kurt Rosenwinkel.
Com algum cuidado lá me fui aproximando do palco. Um mar de gente sentada no chão, impediram que ficasse a menos de 50 metros.
E o concerto ao ar livre começou e avançou e entusiasmou.
Kurt Rosenwinkel, em parceria com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, uma das mais conceituadas do nosso País, editou um disco que apresentou ao vivo. No geral muito bom, alguns dos trechos eram mesmo excelentes.
Pouco importa se o Jazz tocado fazia parte das minhas preferências auditivas, mas pelo que vi, fazia-o certamente de uma grande quantidade de gente.
A cultura, que alguns, poucos e sempre os mesmos, repetem ad nauseam não existir na cidade do Porto, culpando o Presidente Rui Rio à conta da sua política de subsídios, desceu à rua na minha cidade.
A nossa Avenida, que depois de muitos anos com jardins floridos e magníficos no seu traçado, se acinzentou e modernizou por obra e graça do risco arquitectónico de Siza e a complacência, muito criticada na altura, do nosso, ainda, Presidente da Câmara, reganhou vida, com tanta gente ávida de tudo o que por ali se passa, de todos os eventos que vão acontecendo ciclicamente desde há alguns anos, ganhou charme e estilo e está transformada de uma vez por todas no que sempre foi e nunca deveria ter deixado de ser, a nossa sala de visitas por excelência.
Não pertencendo ao governo ou a um qualquer sindicato ou partido político, não consigo saber, com os conhecimentos e as certezas que eles têm apesar de nunca acertarem nos números uns dos outros, qual o número de pessoas que estavam na Avenida dos Aliados durante o concerto, mas, dizendo-o à moda da minha cidade, e com a licença da palavra, estava gente “comó carago”.
1ª Avenida Música Clássica - PORTO
1ª Avenida Música Clássica – PORTO
No sábado, voltei à Avenida. Foi ainda mais difícil estacionar. Fiquei ainda mais longe.
Desta vez era a excelente Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música que apresentava, também em concerto único, trechos de Música Clássica.
Excertos de obras de Beethoven, Mendelssohn, Puccini, Rossini, Verdi e Cláudio Carneyro (compositor Portuense 1895-1963) e a voz do tenor Carlos Cardoso, passaram pelos meus ouvidos, provocando-me uma mistura de sentimentos e sensações há muito não experimentadas. Realmente, um concerto ao vivo e ao ar livre é diferente, entusiasmante e até, acolhedor.
De novo, os presentes eram mais que muitos, se possível muitos mais do que tinham sido na sexta-feira. Parecia uma noite de São João, com tanta gente junta.
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E porque falei em música, nos últimos meses, nos meses de Junho, Julho, Agosto, as tardes de domingo tiveram banda sonora em ambiente descontraído, até ao pôr-do-sol. Esteve de volta o Porto Sunday Sessions e, com ele, mais de 50 horas de música para aproveitar, sempre aos domingos, às 4h da tarde, prolongando-se até às 8h..
Alguns dos nomes mais badalados da música portuguesa da actualidade mostraram o DJ que havia dentro deles. Começou no dia 23 de Junho, no Parque da Cidade, com Salto e The Weatherman.
Em Julho o Porto Sunday Sessions seguiu para o Jardim do Passeio Alegre. E em Agosto instalou-se no Jardim de São Lázaro, o mais antigo jardim municipal da Invicta.
Em Setembro a música regressou já ao Parque da Cidade, a 1 e a 8.
Nos próximos Domingos 15, 22 e 29, ainda pode aproveitar, há música para quase todas as idades, em ambiente descontraído, com gente bonita, bem disposta e em completo “relax”.

A festa da cultura na cidade, na minha cidade, vale a pena ser vivida.

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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

DE VOLTA EM VOLTA PELO PORTO E ARREDORES

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De volta em volta pelo Porto e arredores

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Dei por mim a revisitar a minha cidade a meio deste Verão, no calor de Julho e de Agosto. Tenho o privilégio de sempre ter vivido na parte ocidental do Porto, junto ao mar e ao Parque da Cidade, onde passei a fazer toda a minha vida desde há seis anos, espraiando-me também pela orla marítima, para norte e para sul, e pela fluvial, e deixei quase por completo de ir ao centro, o que acentuou esta minha necessidade de revisita.

Comecei pela “nova” baixa, mas não me fiquei por lá.

As antigas ruas do centro, velhas cinzentas e despidas de interesse, mesmo as mais comerciais que sempre tiveram vida própria, embora que só durante o horário de funcionamento do comércio ou dos serviços, ganharam vida nova. Por todo o lado florescem  bares, restaurantes, esplanadas e até uma nova praça, e milhares de turistas, aos pares ou aos magotes, cirandam por ali, dando um colorido e uma alegria que eu só vira nas cidades modernas e evoluídas. Os autocarros turísticos, descapotáveis e apinhados de gente, polvilham a cidade com o seu colorido.

Numa das minhas, ainda poucas, saídas nocturnas, encontrei uma cidade a fervilhar de vida, com milhares e milhares de pessoas a darem vida aos espaços que ainda há poucos anos estavam mortos, ou simplesmente esquecidos, esperando falecer.

Nunca tinha visto o Porto assim. Encontrei uma cidade nova. Cantos e recantos foram aproveitados para que esta nova cidade florescesse. E até os Portuenses parecem mais alegres, mais descontraídos, ainda mais simpáticos do que era habitual, menos fechados nos seus problemas, que, como em todo o lado, são muitos e em alguns casos, mesmo enormes.

Aos poucos, rua a rua, bocado a bocado, esta nova vida que já está bem implementada, se vai alastrando, e o fenómeno parece imparável. Há obras de requalificação por todo o lado. A oferta é grande e diversificada. Em cada entrada um restaurante de petiscos ou de pratos tradicionais, em cada canto um bar, em cada esquina um Hostel, em cada pessoa um amigo. E, para quem vive deste tipo de comércio e de outros congéneres, não parecem faltar clientes.

Nunca como hoje, a cidade teve tanta oferta cultural, apesar das críticas acesas e costumeiras de alguns poucos contra a falta de subsídios e contra a política que os actuais dirigentes camarários têm sobre o assunto.

O Porto recebeu nos últimos anos uma enorme lufada de vida fresca. Se já era um luxo viver cá, agora ainda o é mais, com toda esta nova oferta que mostra ser de qualidade.

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PORQUE ME APETECE OUVIR MÚSICA

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DOZE DE UMA SÓ VEZ - FABULOSA CRIATIVIDADE
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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CHELSEA MANNING, UM HERÓI AMERICANO

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Foi através de um comunicado lido pelo seu advogado no programa ‘Today’, da NBC News, que ficou a saber-se que Bradley Manning... quer viver como uma mulher e chamar-se Chelsea.
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sábado, 6 de julho de 2013

REVOGUE-SE O IRREVOGÁVEL E...

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SIGA PARA BINGO
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Já nada é o que era, e ainda bem. 
Imaginemos que as pessoas ainda ficavam presas à sua palavra, era um aborrecimento e ainda tínhamos de andar todos com uma corda ao pescoço. E isso, meus caros, já não se usa. Nem ser fiel à palavra dada, e muito menos ser-se penhor dela.
Também já não se usam princípios éticos e outros. Quem os tem chama-lhes seus, mas se houver quem deles não goste, há sempre outros, guardados numa qualquer gaveta, para poder agradar.
Num governo, o nosso, um homem-ministro demite-se por causa de uma mulher-que-vai-ser-ministra, a mulher, coitada, toma posse como ministra numa situação deveras delicada. Entretanto, e face aos graves problemas, à escala Nacional e até Internacional, o homem "recua" na sua decisão irrevogável, sobe de posto mantendo-se no governo como um verdadeiro Primeiro Ministro e, até ver, a mulher-agora-ministra, Maria Luís Albuquerque, também aí se manterá. E o que virá aí é um novo governo, com outras novas caras do partido de Paulo, mas para que assim fosse, não deveria ter sido necessária esta crise.
No que respeita a exigências, de uns e de outros, já por aqui tratei, mas também essas exigências poderiam a partir de agora ser facilmente revogáveis.
O que se não revoga é a vontade de destruir, custe o que custar, todo o esforço que todos nós tivemos de fazer ao longo destes dois últimos anos. Para isso, lá se vão reunindo, uns bandos de tipos politicamente politizados, fazendo marchas, exigindo o descalabro, chamando impunemente os mais feios e execráveis nomes a quem tem o fardo de nos governar, seja essa governação bem feita ou não.
Agora, voltamos a ter a possibilidade de compor o que se descompôs na última semana, e se assim acontecer, lá estarão na forja mais umas greves, umas manifestações, e uns e outros a colocarem-se em bicos de pés, a ver se são vistos e/ou ouvidos. 
Só mesmo na nossa república democrática que, velha de cem anos enquanto república e de quarenta enquanto arremedo de democracia, está mais "prá" cova que outra coisa.
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sexta-feira, 5 de julho de 2013

EXIJO!

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UM PAÍS DE GENTE EXIGENTE
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Ao longo destes últimos muitos anos, quase quarenta, deixamos de pedir, o que era uma vergonha que nos maculava, e passamos a exigir, o que passou a ser um direito que nos assiste até aos dias de hoje.
Toda a gente exige.
Ninguém conversa ou tenta chegar a consensos, exige-se.
Nos últimos tempos as exigências têm subido de tom. Tudo se exige, todos exigem, cada um é dono da verdade e por isso, manda, ordena, exige.
Muitas das exigências são correctas, devem ser exigidas em consensos e trabalhos conjuntos, outras são meros aproveitamentos políticos. Muitos dos que exigem nem fazem ideia do que estão a dizer e a exigir, antes exigem porque lhes disseram que a contestação passa pela exigência, e que a sua liberdade de exigir é que manda e mais ordena, esquecendo-se de que essa liberdade termina onde começar a liberdade do outro.
Exigem-se menos horas de trabalho, exigem-se maiores salários, exige-se que o povo, o outro que não aquele que já o faz, se revolte, exige-se que se trabalhe como eu quero, exige-se que este ou aquele esteja à altura das suas responsabilidades (desde que essa altura seja aquela que eu entendo como a certa), exige-se dinheiro com menos custos, exige-se melhor educação (desde que essa educação seja aquela que eu entendo como certa), exige-se trabalho e respectivo salário mesmo que não haja onde trabalhar nem dinheiro para o pagar, exige-se estabilidade política, exige-se conhecimento, exige-se que aquele que manda saia do seu poleiro se por ventura não pertencer à minha cor política, exige-se tudo e mais alguma coisa, desde que se nada seja exigido de volta  quando as respectivas exigências surtirem efeito.
Num País de tanta gente que tanto exige, como é possível sermos comandados, a todos os níveis, desde o chefe máximo do pessoal mínimo, ao chefe máximo do pessoal máximo, por tanta gente incompetente?
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quinta-feira, 4 de julho de 2013

ELLE MACPHERSON

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ESTAVA EU DE FÉRIAS E...
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Estava eu no gozo pleno de umas nada merecidas férias, quando o meu amigo Paulo decidiu abandonar o barco. Já num dos dias anteriores o Vítor, outros dos amigos que tenho, tinha decidido o mesmo. Fiquei triste e até, direi, estupefacto. O barco, se bem que com muitos rombos, ainda não tinha afundado, nem estava em vias de. 
Mas quando falamos de ratos, é sempre assim, são os primeiros a abandonar o "nabio".
O Vítor já se tinha explicado a quem o quis ouvir, atacando e despejando responsabilidades para o Comandante e outros. O Paulo, inteligente e sagaz, explica-se com a saída do primeiro e com a sua não concordância com a política de substituições praticada a meio do jogo.
O certo é que ficamos quase abandonados à nossa sorte, com todos os chefes máximos de algum do pessoal mínimo a manifestarem o desejo profundo de ajudar a afundar a embarcação, berrando, gesticulando, fazendo comunicações sonolentas e, quase todos, a porem-se em bicos de pés de modo a tentarem que os que realmente importam os vejam. Para além disso, os que ainda aceitam emprestar-nos o graveto para o "pitrol" começaram a subir as taxas de juro, enquanto as acções cotadas em bolsa descem num trambolhão digno de registo.
Entretanto o Comandante que aceitara a fuga do Vítor (que no meio do mar é cuspido por tudo quanto é peixe), diz não aceitar a de Paulo, e puxa-o para bordo, numa cena caricata digna de desenhos animados da célebre doninha fedorenta.
Paulo, fazendo jus à sua inteligência e sagacidade (o que nunca se poderia dizer de Pedro), faz uma fita, bate com os pés no chão, berra um poucochinho, gesticula, ajeita a melena curta, coloca o seu sorriso matreiro (símbolo de oportunismo ou, dirão outros, de sentido de oportunidade), e diz-lhe que até aceita não deixar o barco afundar, mas que quer mais poderes para os seus apaniguados e porventura para ele próprio. E começam a conversar os dois, Pedro e Paulo (com a hipótese de o Paulo se deixar trazer para o barquito, bem clara na postura física de ambos), lado a lado, como bons amigos que nunca o foram. 
Os arautos da desgraça do nosso navio, descem a terreiro e continuam a falar alto, e um até começa um aparvalhado périplo pelas cidades da Europa, a ver se ganha alguma credibilidade. Mas tudo é em vão. Nada conseguirão que os acalme. 
De uma forma ou de outra, as notícias atropelam-se, sendo que tudo pode vir a acontecer, desde a saída definitiva de Paulo, à sua permanência numa outra pasta, por exemplo na da Economia, passando pelo reforço do número de elementos no Governo afectos ao PP, ou pelo descalabro, imposto pelo Presidente.
Talvez que isto se componha, talvez que apareça alguém que seja capaz, talvez que um dia, eu acredite na seriedade e competência de quem nos governa o barco. Talvez!
O nosso navio está mal comandado, muito foi feito mal e o pouco que se fez de bem foi realmente muito pouco, mas muitos dos que contestam esse comando querem tão somente mandar, trocar de lugar com quem manda nesta altura, mesmo que isso represente de uma vez por todas uma igualdade ao navio grego e o descalabro total.
No entretanto, e como estou de férias, embora como disse muito pouco merecidas, vou deliciando os olhos, enquanto posso, na maravilhosa Elle MacPherson que aos 49 anos faz roer de inveja muitas pessoas e não tem ninguém a seu lado a abandonar o navio.
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quarta-feira, 19 de junho de 2013

DIZEM QUE SOU DE DIREITA, EU, QUE NUNCA FIZ GREVE



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NUNCA FIZ GREVE E DIZEM QUE SOU DA DIREITA.

Quando aconteceu o 25 de Abril, eu era quase um puto. Ou melhor, tinha acabado de deixar de o ser, já que tinha quase 22 anos. Nos dia de hoje seria homem e com capacidade para votar e influenciar a vida das outras pessoas há já quase quatro anos, mas na altura não era assim. Naqueles dias deixei de ser um puto porreiro e amigo das pessoas, preocupado com o bem estar dos que eu conhecia e dos que, sem conhecer ouvia falar, e passei a ser, por via da minha simpatia confessa (naquela altura) pelo PPD acabado de criar, um gajo da direita, por vezes até um fascista. E vivi assim até aos dias de hoje, ouvindo pareceres sobre a minha pessoa, ora bons ora maus, apesar das minhas simpatias não mais terem tido nome. Mas as minhas antipatias sempre o tiveram, apesar da condescendência para com elas que sempre me prezei de ter!
Na minha meninice e na minha juventude (fazia parte dos meninos beneficiados pela sorte por pertencer a uma posição social média e com estudos), a educação que me deram os meus pais, os meus tios e os meus avós, baseou-se sempre no imenso respeito pela maneira de viver dos outros, em especial pelos que menos tinham, no imenso respeito pelas ideias alheias, mesmo que fossem completamente diversas das minhas, no cuidado extremo na forma de falar e no que dizer, por forma a não ofender fosse quem fosse, fosse de que maneira fosse, na solidariedade e na entreajuda. À minha custa, aprendi nos primeiros anos de adulto, que muitos outros não tinham sido educados da mesma forma. Ao longo destes já muitos anos que levo de vida fui batalhando contra essa minha ingenuidade intrínseca, confesso que sem muito proveito.
Trabalhei trinta e seis anos, tendo começado por servente até atingir a posição de sócio-gerente, sempre na mesma firma, sem nunca ter feito greve e felizmente sem nunca ter faltado por ter estado doente ou por qualquer outra razão. Ensinaram-me a ser o primeiro a chegar e o último a sair e procurei sê-lo durante a maior parte dos anos de trabalho.
Vem isto a propósito dos últimos acontecimentos na vida dos meus concidadãos e minha.
Não vou falar dos energúmenos que roubam a coberto ou à descarada o dinheiro de todos nós.
Não vou falar dos interesse políticos de toda uma classe que não sabe o que é solidariedade ou entreajuda.
Não vou falar de greves e do que as centrais sindicais fazem supostamente em prol dos seus sócios prejudicando tudo e todos à sua volta, sem o mínimo de capacidade e interesse pelos outros que não eles ou o seu poleiro.
Desta vez vou falar de educação. Não no seu aspecto lato, que incluiria alunos e professores, instituições, ministros e secretários de estado, e pessoas em geral, mas no seu sentido restrito, no das relações entre as pessoas bem ou mal educadas.
Não chega ser-se doutor médico ou engenheiro, arquitecto ou professor, para se ser uma pessoa inteligente e mais que isso, moralmente bem formada e bem educada. Eu sei que para alguns, o moralmente bem formado cheira a fascismo e a religião (coisa horrorosa, bafienta e decadente), mas que hei-de fazer, educaram-me assim e é assim que eu sou. Infelizmente, e como nas pessoas de um modo geral, cada vez há mais burros carregados de livros, e "dótores" mal educados e moralmente mal formados. Claro que os há em toda a nossa população, espalhados por todo o lado, mas aqui, o que me importa hoje, é falar dos que têm a obrigação de ensinar os nossos filhos e de ajudar na sua formação e educação. Os senhores professores!
Ora, os senhores professores, cuidando dos direitos que julgam pertencer-lhes, e julgarão muito bem (não me vou meter nessa guerra, que não sou professor e temo saber pouco das suas reivindicações), entenderam fazer greve. Por certo não todos, por certo que alguns levados pelos outros, mas a sua maioria assim o entendeu, e, mais uma vez muito bem. Apesar de não acreditar em greves, apesar de nunca as ter feito, aceito, como é evidente, que estejam no seu legítimo direito. É uma questão de liberdade e o povo Português julga-se livre.
Aprendi no entanto que a liberdade de uns termina no preciso ponto onde começa a liberdade dos outros, e aqui começa a minha discordância com quem faz (fez) greve em algumas circunstâncias. Não concordei com as greves nos portos marítimos já que quase só prejudicavam a economia Nacional, nossa, de todos nós, não concordei com a greve nos transportes públicos já que quase só prejudicavam os utentes, não concordo com a greve dos senhores professores nesta altura dos exames Nacionais já que só prejudica os alunos e os seus agregados familiares.
É muito bonito falar-se e exigir-se a solidariedade de todos para com a luta dos docentes contra o "malfadado governo", que já dura à imensos governos (com cada novo ministro nova velha luta), mas onde está a dos senhores professores (neste caso concreto) pelos alunos que precisam das notas atempadamente para passarem ao ensino superior, ou que têm todo o direito a não terem de viver os problemas que não são directamente deles, para fazerem os seus exames com calma e sem qualquer stress acrescido, ou tão somente que precisam que tudo acabe rapidamente para partirem para as tão merecidas férias?
Serão danos colaterais, eu sei, estes prejuízos todos para os mais fracos, admissíveis em algumas guerras por parte de alguns beligerantes, mas a meu ver, os senhores é que ficam com a "ficha" suja. Se eu fosse aluno e estivesse nessas circunstâncias, não vos perdoaria, e se fosse pai de algum deles, também não.
O que os senhores professores estão a ensinar aos alunos é que não faz mal passar-se seja por cima de quem for desde que com isso obtenhamos os nossos intentos, e isso é formar mal as crianças e os adolescentes, futuros adultos e mandantes do nosso País.
Por fim vou falar das futuras reacções a este meu escrito. Se vos for possível, agradeço que não utilizem as palavras ofensivas que alguns de vós (felizmente poucos), comentadores de blogues, têm por hábito utilizar (vejo-os a cada passo nas caixas de comentários), atentadoras dos bons costumes (mais uma vez uma frase bafienta, horrorosa e decadente), das boas maneiras e dignas de pessoas mal formadas e/ou mal educadas. Os insultos, mesmo que brandos, só desmerecem quem os utiliza.

terça-feira, 18 de junho de 2013

MIGUEL SOUSA TAVARES


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SOBRE A GREVE DOS PROFESSORES
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NÃO CONSIGO ESTAR MAIS DE ACORDO, MAS SE CALHAR, AO QUE SE OUVE, SOU SÓ EU!
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A minha entrada no ensino foi feita numa pequeníssima aldeia rural do norte. Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª classe, todos juntos na mesma e única sala de aula da escola - que não me lembro se tinha ou não casas-de-banho, mas sei que não tinha qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico, de Novembro a Março, que nos colava às carteiras duplas, petrificados como estalactites. Lembro-me de que o "recreio" era apenas um pequeno espaço plano, enlameado no Inverno, e onde jogávamos futebol com uma bola feita de meias velhas e balizas marcadas com pedras. A escola não tinha um vigilante, um porteiro, uma secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança, a professora que, sozinha, desempenhava todas essas tarefas e ainda ensinava os rios do Ultramar aos da 4ª classe, a história pátria aos da 3ª, as fracções aos da 2ª, e as primeiras letras aos da 1ª. Ela, sozinha, constituía todo o pessoal daquilo a que agora se chama o 1º ciclo. Se porventura, adoecesse, ou se na aldeia houvesse, que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa psicológica ou outra qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80 crianças da aldeia em idade escolar ficariam sem escola. Mas ela não falhou um único dia em todo o ano lectivo e eu saí de lá a saber escrever e para sempre apaixonado pela leitura. Devo-lhe isso eternamente.
Nesse tempo, não havia Parque Escolar, não havia pequenos-almoços na escola (que boa falta faziam!), não havia aquecimento nas salas, não havia o recorde de Portugal e da Europa de baixas profissionais entre os professores, não havia telemóveis nem iPads com os alunos, não havia "Magalhães" ao serviço dos meninos, mas sim lousas e giz, os professores não faziam greves porque estavam "desmotivados" ou "deprimidos" e a noção de "horário zero" seria levada à conta de brincadeira. Era assim a vida.
Não vou (notem: não vou) sustentar que assim é que estava bem. Limito-me a dizer que tudo é relativo e que nada do que temos por adquirido, excepto a morte, o foi sempre ou o será para sempre. E sei que na Finlândia - o país considerado modelo no ensino básico e secundário pela OCDE - os professores trabalham mais horas do que aqui, não faltam às aulas e ganham proporcionalmente menos. Com resultados substancialmente melhores, do único ponto de vista que interessa aos pais e aos contribuintes: o desempenho escolar dos alunos.
Só uma classe que recusou, como ultraje, a possibilidade de ser avaliada para efeitos de progressão profissional - isto é, uma classe onde os medíocres reivindicaram o direito constitucional de ganharem o mesmo que os competentes - é que se pode permitir a irresponsabilidade e a leviandade de decretar uma greve aos exames nacionais. Nisso, são professores exemplares: transmitem aos alunos o seu próprio exemplo, o exemplo de quem acha que os exames, as avaliações, são um incómodo para a paz de um sistema assente na desresponsabilização, na nivelação de todos por baixo, na ausência de estímulo ao mérito e ao esforço individual.
Mas a greve dos professores vai muito para lá deles: reflecte o estado de espírito de uma parte do país que não entendeu ou não quer entender o que lhe aconteceu. Deixem-me, então recordar: Portugal faliu. O Portugal das baixas psicológicas, dos direitos adquiridos para sempre, das falcatruas fiscais, das reformas antecipadas, dos subsídios para tudo e mais alguma coisa, dos salários iguais para os que trabalham e os que preguiçam, faliu. Faliu: não é mais sustentável. Podemos discutir, discordar, opormo-nos às condições do resgate que nos foi imposto e à sua gestão por parte deste Governo: eu também o faço e veementemente. Mas não podemos, se formos sérios, esquecer o essencial: se fomos resgatados, é porque fomos à falência; e, se fomos à falência, é porque não produzimos riqueza que possa sustentar o modo de vida a que nos habituámos. Se alguém conhece uma alternativa mágica, em que se possa ter professores sem crianças, auto-estradas sem carros, reformas sem dinheiro para as pagar, acumulando dívida a 6, 7 ou 8% de juros para a geração seguinte pagar, que o diga. Caso contrário, tenham pudor: não se fazem greves porque se acaba com os horários zero, porque se estabelece um horário semanal (e ficcional) de 40 horas de trabalho ou porque o Estado não pode sustentar o mesmo número de professores, se os portugueses não fazem filhos.
Por mais que respeite o direito à greve, causa-me uma sensação desagradável ver dirigentes sindicais, dos professores e não só, regozijarem-se porque ninguém foi trabalhar. Ver um sindicalismo de bota-abaixo constante, onde qualquer greve, qualquer manifestação, é muito mais valorizada e procurada do que qualquer acordo e qualquer negociação - como se, por cada português com vontade de trabalhar, houvesse outro cujo trabalho consiste em dissuadi-lo desse vício. Assim como me causa impressão, no estado em que o país está, saber que quase 200.000 trabalhadores pediram a reforma antecipada em 2012, mesmo perdendo dinheiro, e apesar de se queixarem da crise e dos constantes cortes nas pensões. Porque a mensagem deles é clara: "Eu, para já, mesmo perdendo dinheiro, safo-me. Os otários que continuarem a trabalhar e que se vierem a reformar mais tarde, em piores condições, é que lixam!" É o retrato de um país que parece ter perdido qualquer noção de destino colectivo: há um milhão de portugueses sem trabalho e grande parte dos que o têm, aparentemente, só desejam deixar de trabalhar. Será assim que nos livraremos da troika?
As coisas chegaram a um ponto de anormalidade tal, que, quando o ministro da Educação, no exercício do seu mais elementar dever - que é o de defender os direitos dos alunos contra a greve dos professores - convoca todos eles para vigiar os exames, aqui d'El Rey na imprensa bem-pensante que se trata de sabotar o legítimo direito à greve. Ou seja: que haja professores (que os há, felizmente!) dispostos a permitir que os alunos tenham exames é uma violação ilegítima do direito dos outros a que eles não tenham exames. Di-lo o dr. Garcia Pereira, o advogado dos trabalhadores e do dr. Jardim, infalível defensor da classe operária, e o mesmo que, no final do meu tempo de estudante, na Faculdade de Direito de Lisboa, invocando os ensinamentos do grande camarada Mao, decretava greve aos "exames burgueses" - que o fizeram advogado.
Não contesto que as greves, por natureza, causem incómodos a outrem - ou não fariam sentido. Mas há limites para tudo. Limites de brio profissional: um cirurgião não resolve entrar em grave quando recebe um doente já anestesiado pronto para a operação; um controlador aéreo não entra em greve quando tem um avião a fazer-se à pista; um bombeiro não entra em greve quando há um incêndio para apagar. Eu sei que isto que agora escrevo vai circular nos blogues dos professores, vai ser adulterado, deturpado, montado conforme dê mais jeito: já o fizeram no passado, inventando coisas que eu nunca disse, e só custa da primeira vez. Paciência, é isto que eu penso: esta greve dos professores aos exames, por muitas razões que possam ter, é inadmissível.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia
Texto publicado na edição do Expresso de 15 de Junho de 2013
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