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UMA MANHÃ DE NEVOEIRO
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Hoje acordei cansado. Cansado e a chover. O dia estava frio, escuro e com muito vento. O nevoeiro cobria tudo de um cinzento claro. Acordei cansado e com a vontade quebrada. Às vezes tenho dias assim. Acordei cansado da crise que nos assola, mas mais do que isso, cansado de tanta canseira.
Todos os dias, e hoje não foi excepção, ouço na rádio ou na televisão, ou leio nos jornais, as novas do que se vai passando no meu país e no mundo.
As notícias novas são todas elas velhas, e falam das dificuldades diárias do meu povo. Más estradas, necessidade de recorrer ao estrangeiro para tratamentos ou para fazer nascer os nossos filhos e até mesmo para poupar nas compras de bens essenciais como gasolina e comida (infelizmente nestas últimas só as populações próximas da fronteira têm essa possibilidade), assaltos violentos (cada vez há mais), acidentes rodoviários (sempre demasiados), subida de preços, mau ensino e educação (com os professores em contínua guerra com o governo), desemprego crescente, falta de apoio ao comércio à industria e à agricultura (com o ministro Jaime Silva a assumir que ainda não pagou a totalidade do que deveria ter pago aos agricultores referente a 2007), fraudes em sectores chave da economia, banqueiros na prisão, falências de bancos, ministros a parecer que não sabem o que andam a fazer (Finanças e Educação entre outros), propaganda enganosa (nos anúncios e nas palavras dos governantes), TGV, Alcochete, cores nos alertas feitos por uma entidade que fala mais e demais do que faz e menos do que deveria ter feito, ordenados baixos (os mais baixos são mesmo de miséria) e muitos em atraso, falta de trabalho (muito do pouco que há é precário) … sei lá, tantas e diversas são as coisas que se ouvem, que me revoltam e que me fazem mal.
E o povo sofre. Sofre na pele todas as dificuldades que os governantes não sentem. Porque estes senhores não sofrem a perda do poder de compra. Não sabem o que é viver com 500 euros por mês e ter de alimentar uma família. Não imaginam o que é andar nos transportes públicos, por vezes mais do que um para poder chegar ao trabalho, o que é esperar meses por uma consulta e depois outros por uma operação ou tratamento num hospital público ou mesmo e só horas pelo médico da “caixa”. Nem lhes passa pela cabeça o que é viver em casas degradadas ou em bairros mal frequentados, vestir roupas de feira de muito má qualidade, ter um carro com muito mais de 10 anos e a precisar de arranjo ou substituição, ou não ter dinheiro para uma alimentação normal ou mesmo para aquecer a casa no inverno.
Estes senhores não sabem nada sobre as dificuldades do povo que governam. Estes senhores, nem querem saber! Mas sabem que se derem ao povo muitas telenovelas, muito futebol (o Ronaldo, excelente jogador, é o expoente máximo) e disputas políticas e palavrinhas mansas e mentiras bem contadas e enganos bem forjados, o povo, crente e sedento, acredita e aguenta mais um pouco.
Era assim, estou em crer que esse tempo se está a acabar!
Aos poucos as pessoas vão abrindo os olhos. Já são mais de trinta anos de enganos e decepções. Já são muitos anos de crises em cima de crises, em que cada uma que vem, é pior que a anterior.
Já todos estão cansados.
Eu já me cansei!
É preciso mudar. Mudar o rumo. Mudar de gentes. Mudar de políticos. Mudar tudo!
Mas infelizmente o Obama é americano e nada quererá connosco, e apesar do nevoeiro cerrado da manhã de hoje, ainda não é desta que chega o D. Sebastião.
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JM
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(Foto JM)
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(in O Primeiro de Janeiro, 27/01/2009)
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