quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

COMO SE FORA UM CONTO


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ISTO ANDA COMPLICADO. TEMOS DE MUDAR!

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Dizem-me que o destino tem vida e vontades próprias e que nada escapa aos seus mais ínfimos desejos. Que é caprichoso e intolerante, e por isso pouco esperto e pouco inteligente, utilizando a força do seu poder para fazer valer os seus propósitos, sem se importar com a felicidade de cada um. Mas se pensar-mos e utilizar-mos a nossa esperteza e a nossa inteligência não o poderemos mudar? Será o nosso destino, ter-mos de viver como se vive nos dias de hoje?

Tudo à nossa volta está a mudar de uma forma radical e vertiginosa. Em pouco mais de um século, todos os males do mundo se concentraram.

Estamos a precisar de umas novas Tábuas da Lei.

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Dá que pensar, o mundo em que hoje vivemos. Penso nas guerras, nas mortes, na fome. Penso na política e nos interesses instalados. Penso e sinto-me triste e desmotivado. Que fizemos nós ao mundo em que viviamos?

O Homem, cada vez é mais egoísta e mau. Só interessa o que de bom possa advir para os seus interesses, por via das suas acções, e os outros, os seus concidadão de nada valem nem interessam. Rouba-se e mata-se por dá cá aquela palha. A indiferença pelos horrores que se passam por esse mundo fora, é total. Poucos são os que se importam e lutam contra esse estado de coisas. E quem se importa, sofre na pele o escárnio dos restantes. Frases como “deixa estar que não é nada contigo” ou “é assim!” são banais.

O mundo das gentes de hoje é a casa de cada um, e em alguns casos nem a família chegada faz parte dele.

O mundo de hoje, não é bom para se viver nem para educar os nossos filhos. Vive-se para o dinheiro, do dinheiro e dos prazeres que ele nos proporciona. Não há valores morais ou de conduta. Tudo serve para chegar ao fim a que nos propomos.

O mundo está a morrer, e quem se debruçar sobre estes assuntos e sobre o que é a vida nele, e se preocupar com os dias de hoje, corre o risco de, com frequência, ter pesadelos como os que vos vou contar.

Dias atrás, soube de um Homem ainda muito jovem e impressionável, dos que ainda se importam, dos que lutam por uma vida melhor ajudando os menos protegidos, dos que estão lá a trabalhar em favor dos outros sem que lhe peçam, e ouvi a história de um fim de noite que tinha tido, após a primeira vez que andou a ajudar com comida e agasalhos os sem abrigo do Porto.

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Ainda era noite cerrada quando acordou.

Passou de um sono profundo à consciência plena, com uma brusquidão tal, que foi imediatamente dominado pelo medo. O coração batia como louco e viu-se perdido. Sentia-se desorientado, mas aos poucos a sua mente foi abarcando o que havia à sua volta: uma parede, um quadro …

Sentiu distintamente uma dorzita no estômago, uma ligeira angústia, provocada por certo por uma noite que fora povoada com sonhos sobre catástrofes e ruína. Um ataque de terror acompanhou-lhe o acordar.

Tentou levantar a cabeça sem o conseguir. Tentou mover-me e nada aconteceu. Estava imobilizado. Gritou por alguém, ou antes, tentou gritar, porque da sua boca nada mais saiu que um murmúrio. De todo o seu corpo, só os olhos se moviam como loucos, e as veias do pescoço latejavam fortemente. Com esforço, tentou dominar as apreensões, começando por tentar raciocinar

Quanto soubesse, não padeçia de ansiedade generalizada nem de algum síndrome depressivo, nem teve alguma vez necessidade de ser observado por psiquiatria. Afinal porque estaria naquele estado? Onde tinha estado antes, a fazer o quê? Não seria tudo isto afinal, parte de um pesadelo que ainda não tivesse terminado?

Não, se assim fosse já estaria a passar. Já se moveria, e já estariam de regresso os ruídos tranquilizadores da noite.

O terror que antes sentia, começava a transformar-se em pânico.

Tentou de novo mover-se. O seu cérebro já não tinha forças para comandar o que quer que fosse. Seria assim, morrer?

Lá fora, uma tempestade de vento frio e chuva, abatia-se sobre as janelas sem vidros do pequeno quarto em que se encontrava. Um rio de água, escorria pela parede e encharcava os panos que meio esquinados estavam ao lado da cama.

Muito baixinho, ouvia-se distintamente a “Grande Messe Des Morts” de Berlioz.

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Abriu os olhos devagar, o quarto era-lhe familiar. Era o seu quarto e tudo estava normal. O coração ainda batia descompassado, mas aos poucos percebeu que tudo não tinha passado de um sonho esquisito, provocado pelas vivências da noite anterior. Agora tudo voltara ao normal.

Os barulhos eram os de sempre, o dia começara já a nascer, o corpo tranquilizante e cálido de sua mulher, estava ainda adormecido a seu lado. A calma matinal começou a fazer o seu serviço e ele relaxou.

Levantou-se para se arranjar e ir para o seu trabalho de todos os dias.

Dentro de dois ou três dias, iria de novo fazer a ronda nocturna pelas ruas da cidade, e esperava não ter de novo pesadelos.

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JM

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(in O Primeiro de Janeiro, 29-01-2009)

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