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Estariam cá ainda há relativamente pouco tempo, quando decidiram dar um outro rumo à sua vida. Tinham chegado com poucos recursos e a vida não era fácil.
De aparência pacata, os dois amigos, pois que de dois se tratava, estudaram a maneira de, de uma vez por todas, ficarem bem de vida.
Escolheram companhias que lhes foram ensinando como e onde fazer.
Escolheram o local e a forma de executar.
Colheram o máximo de informações possível, e lá foram de abalada para o projecto da suas vidas. Sabiam tudo o que queriam, e como o queriam. Afinal lá na terra deles era assim, e aqui seria muito mais fácil.
Horas depois, ainda no local do trabalho a que se tinham proposto, as coisas não estavam a correr tão bem como o planeado.
Do lado de fora da porta, um aglomerado de polícias, cercava o banco. Um mediador tentava convencê-los a desistir do assalto. Por fim, com dois reféns e com as pistolas encostadas à cabeça deles, os dois amigos assaltantes, continuando a recusar a proposta de desistência do assalto, e ameaçando matar os reféns, foram baleados, morrendo um instantaneamente, e outro ficando em muito mau estado e em perigo de vida.
Não era para ser assim, lá na terra deles talvez, aqui não. Aqui tudo era pacífico e quem teria a obrigação de disparar, quase nunca tinha ordens para o fazer, e se o fizesse, de imediato seria suspenso e com um processo em cima dos ombros. Não era para ser assim. Não era para acabar assim. De qualquer maneira, a rendição estivera sempre fora de causa. Na terra deles quem se rendia num caso destes, mais valeria morrer…
Se estivessem cá há mais tempo, se as companhias de que obtiveram ajuda para a execução do plano, os tivessem devidamente informado, se tivessem aprendido como é a justiça e as leis de agora em Portugal, (onde já há bandidos que o não são, onde há mais meliantes em casa com prisão domiciliaria do que nas prisões, onde, em vez de acabarem com a droga nas cadeias promovem a troca de seringas aprovando assim implicitamente o seu consumo), se conhecessem o ministro da justiça português, saberiam que tudo aqui se passa de modo diferente e que , se desistissem do assalto, a meio ou mesmo depois da intervenção dos mediadores da polícia, tudo acabaria em bem. No dia seguinte, seriam presentes a juiz e logo de seguida libertados, a aguardar em liberdade o que fosse que viesse a acontecer, que não deveria ser mais do que uma multa a pagar em suaves prestações, com todo o tempo do mundo para refazer as ideias, recomeçando por treinar um pouco, assaltando velhinhas ou supermercados, e voltar, mais tarde, a assaltar outro banco, sem cometerem os erros que ditaram o desfecho do BES.
Mas ninguém lhes disse nada disto, embora na verdade, se o tivessem feito, o mais certo seria não terem acreditado.
A ignorância é por vezes, fatal, e neste caso, foi-o de verdade.
JM
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Publicado no jornal "O Primeiro de Janeiro" em 19 de Agosto de 2008 na página Opinião
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