domingo, 28 de setembro de 2008

SENHORA DONA

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Senhora Dona

Li hoje no JN, um artigo de opinião, da autoria da Senhora Drª D. Alice Vieira, com o qual estou inteiramente de acordo. por isso, e com a devida vénia, o reproduzo a seguir.

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Senhoras donas, por favor!

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Cada país (cada língua, cada cultura) tem a sua maneira específica de se dirigir às pessoas. Mal passamos Vilar Formoso, logo toda a gente se trata por tu, que os espanhóis não são de etiquetas nem de salamaleques.
Mas nós não somos espanhóis.
Também não somos mexicanos, que se tratam por "Licenciado" Fulano. Nem alinhamos com os brasileiros, para quem toda a gente é "Doutor", seguido do nome próprio: Doutor Pedro, Doutor António, Doutor Wanderlei, etc..
Por cá, Doutor é seguido de apelido, e as mulheres, depois de passarem por aqueles brevíssimos segundos em que são tratadas por "Menina", passam de imediato-- sejam casadas, solteiras, viúvas ou amigadas, sejam velhas ou novas, gordas ou magras, feias ou bonitas, ricas ou pobres -à categoria de "Senhora Dona".
Mas parece que uns estranhos ventos sopraram pelas cabeças das gerações mais novas que fizeram o "dona" ir pelos ares ou ficar no tinteiro. Quando recebo daqueles telefonemas que me querem impingir tudo o que se inventou à face da terra-- desde "produtos" bancários que me garantem vida farta, até prémios que supostamente ganhei por coisas a que nunca concorri-sou logo tratada por "Senhora Alice." Respondo sempre: " trate-me por tu, se quiser; ou só pelo meu nome, se lhe apetecer; mas nunca por Senhora Alice".
Mas o cérebro destes pobrezinhos não foi formatado para encontrar resposta a estas coisas, e exclamam logo: "ah, então não é a Senhora Alice que está ao telefone!"
Eu sei que isto não é uma coisa importante, mas que é que querem, irrita-me quando oiço este tratamento dado às mulheres.
Tal como me irrita quando vejo/oiço um jornalista tratar por você alguém com o dobro da idade dele.
É uma questão de delicadeza. De respeito. E de saber falar português. Três coisas-admito-completamente fora de moda.
Pois qual não é o meu espanto quando, aqui há dias, na televisão, oiço o Senhor Primeiro Ministro referir-se assim à mulher (também odeio a palavra "esposa"…) do Comendador Manuel Violas. "A Senhora Celeste…." (não sei se é este o nome da senhora, mas adiante).
Fico parva. Nos cursos todos que tirou, ninguém lhe ensinou que as senhoras são todas "Senhoras Donas"?
Parafraseando livremente o nosso Augusto Gil, "que quem trabalha num call-center nos faça sofrer tormentos… enfim!/ Mas o Primeiro Ministro, Senhor? Por que nos dás esta dor? Por que padecemos assim?"
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Convenhamos que também eu estou farto, até à ponta dos meus cabelos, de ser, quase seja onde for, tratado por senhor José, para além das outras coisas retratadas no texto, mas dizem-me que é sinal dos tempos, que é uma cultura que tem de se criar, à americana, e que é muito melhor assim. Mas não é, pois que até num dos seus inqualificáveis anúncios, o BES, já emendou a mão, e faz agora a diferenciação entre o "tu", o "você" e o "senhor(a)".
Pelos vistos, não devemos ser nós os dois, a Senhora Drª D. Alice Vieira e eu, a estar fartinhos desta nova moda.
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JM
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2 comentários:

  1. Quando eu era miúda, havia as senhoras, que eram senhoras donas, e as mulheres-a-dias, que eram só senhoras.
    Os filhos das mulheres-a-dias não sabem isto. Se as mães deles eram só senhoras, então as outras mulheres também são.
    Não é por mal. Ninguém nasce ensinado.

    Parebéns pelo blog, JM.

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  2. Obrigado Gi,
    É verdade que ninguém nasce ensinado, mas também não é menos verdade que hoje, é "uma vergonha" ensinar estas coisas, e muito maior vergonha aprendê-las.
    Irei visitar o seu Blogue com atenção.

    Cumprimentos

    JM

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