O NOSSO PAÍS É UM GOZO!
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Quem chegasse hoje a Portugal, sem nada saber sobre nós, sem imaginar quem somos ou o que fazemos, e se quisesse informar, iria por certo ler jornais e ouvir televisão. Depois, só depois, falaria com as pessoas.
Em pouco tempo chegaria à conclusão de que somos uns tontos, apalermados e ignorantes, que nem para nós sabemos ser bons.
Descobriria que andamos todos a berrar contra todos, toda a gente a enganar a outra gente toda, cada um a dizer que sabe exactamente o que o seu parceiro do lado deveria fazer e que não é necessariamente o que ele faria, com quase todos a roubar os outros todos, com todas as pessoas a suspeitar das intenções das pessoas todas, em suma, descobriria que bem lá no fundo, ninguém se entende.
E olhando bem para as notícias dos últimos dias, e retirando os acidentes e as histórias de casos tristes e particulares, que sempre aparecem nos jornais ou nos noticiários televisivos, só mesmo um sorriso pode aparecer na cara de quem as olha.
Sobre um caso muito mediatizado, vai um e diz que suspeitou de algumas coisas e porque não concordava com o modelo de gestão até foi à casa do outro dizer-lhe que era preciso ter mais atenção e controle e que da parte dele não tinha havido nada que se lhe pudesse apontar de errado nas supostas irregularidades, vem o outro e diz que sim, que o primeiro foi ter com ele, mas não para isso que diz, mas sim para lhe dizer que a vigilância estava muito apertada e era preciso abrandar ou até mesmo parar, que eles até nem eram um bando de ladrões. E para corroborar o que diz, e chamar mentiroso na cara de quem disse tanta mentira, quer uma acareação.
E o nosso visitante iria absorvendo tudo...
Sobre outro dos mais mediatizados casos dos últimos dias, vem um e diz num "mail", que o primo é primo, e por via disso consegue uma reunião importante, vem outro e diz que o filho do tio, que será ou não primo na opinião dele, não tinha o direito de o ter feito e que ele até nem sabia que isso tivesse acontecido. Vem o pai do filho do tio e diz que telefonou ao sobrinho para marcar uma reunião com os promotores de um empreendimento que era preciso licenciar, e que essa reunião foi efectuada. Vem o sobrinho e diz que isso não é verdade, que ele foi a uma reunião, sim, mas a pedido de um autarca. Começam a correr rumores de que foram pagos quatro milhões de eurospara que o licenciamento se efectuasse em tempo record. Todos negam o recebimento dos milhões mas que o licenciamento foi feito em tempo mínimo, isso foi. O primo que não é primo, mas é filho do tio, foge para parte incerta, diz-se que para a China ou para o Nepal. Há quem saiba onde ele está mas não diz para que ele não fuja de novo para outro lado. Entretanto chega uma carta rogatória da polícia Inglesa que diz que o sobrinho é suspeito destas irregularidades e pede à polícia Portuguesa que investigue as contas bancárias. Sabe-se já há alguns dias que o sobrinho tinha sido ministro na altura dos acontecimentos. O nosso Primeiro, vem a terreiro defender a sua honra e diz que era ele o ministro da altura mas que tudo é uma mentira, uma cabala para o derrubar, mas que não é assim que ele cai, etc., etc., etc....
Ainda sobre esse assunto, vem um antigo dirigente partidário de direita, antigo pretendente à Presidência da República apoiado pela direita, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros do actual governo socialista, defender o nosso Primeiro, e atacar veementemente quem possa dizer que onde há fumo pode haver fogo.
E o nosso visitante iria absorvendo tudo...
Noutro caso muito badalado, ouve e lê que os professores do ensino secundário estão contra as vontades do governo e que fazem greves, e que não ensinam, e que a guerra com a ministra da Educação está para durar, enquanto os alunos sofrem.
Ainda sobre isso, ou paralelamente, o governo apresenta um relatório emanado da OCDE, que afinal não era da OCDE, mas de um grupo de entidades, de entre as quais uma reputada técnica da OCDE que afinal só tinha escrito e assinado o prefácio, documento esse que no fim de contas tinha sido encomendado pelo governo a esses peritos independentes, com base em alguns poucos relatórios que o governo tinha elaborado, para dizer bem da sua política educativa.
Sobre outros dos casos ultimamente muito falados ouviria o nosso visitante falar dos despedimentos de trabalhadores, às centenas, todos os dias, acompanhando de resto o que se passa por esse mundo fora. Vem o governo e diz que vai apoiar todas as empresas que puder e salvá-las do encerramento. Quantas já conseguiu? Nada que se veja! E o governo faz anúncios de ajudas e mais empresas anunciam o seu fecho. Nada que configure em alguns casos, aproveitamento da crise. Estão para breve mil e quinhentos desempregados aqui, duzentos ali, quatrocentos acolá, cento e oitenta mais abaixo, e os nossos governantes a dizer que vão salvar as empresas que puderem. A verdade é que não podem, mas convém ir dizendo que o vão fazer para adormecer o povo.
E o que faz o nosso povo? Que fazem os Portugueses? Nada! Vão ouvindo as palavras de quem nos governa, vão acreditando em tudo quanto lhes dizem, e mais nada. O engenheiro fala e o povo acredita e não reage. Estamos em ano de eleições e é preciso falar muito e bem, para acalmar toda a gente. E que bem que o homem fala!
E o nosso visitante não aguentaria mais e riria a bandeiras despregadas. Só mesmo para rir, este Portugal destes Portugueses.
E já nem valeria a pena falar com os habitantes. Estão mesmo todos atolambados!
Este nosso País, está um gozo!
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JM
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(in O Primeiro de Janeiro, 4-02-2009)
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Em pouco tempo chegaria à conclusão de que somos uns tontos, apalermados e ignorantes, que nem para nós sabemos ser bons.
Descobriria que andamos todos a berrar contra todos, toda a gente a enganar a outra gente toda, cada um a dizer que sabe exactamente o que o seu parceiro do lado deveria fazer e que não é necessariamente o que ele faria, com quase todos a roubar os outros todos, com todas as pessoas a suspeitar das intenções das pessoas todas, em suma, descobriria que bem lá no fundo, ninguém se entende.
E olhando bem para as notícias dos últimos dias, e retirando os acidentes e as histórias de casos tristes e particulares, que sempre aparecem nos jornais ou nos noticiários televisivos, só mesmo um sorriso pode aparecer na cara de quem as olha.
Sobre um caso muito mediatizado, vai um e diz que suspeitou de algumas coisas e porque não concordava com o modelo de gestão até foi à casa do outro dizer-lhe que era preciso ter mais atenção e controle e que da parte dele não tinha havido nada que se lhe pudesse apontar de errado nas supostas irregularidades, vem o outro e diz que sim, que o primeiro foi ter com ele, mas não para isso que diz, mas sim para lhe dizer que a vigilância estava muito apertada e era preciso abrandar ou até mesmo parar, que eles até nem eram um bando de ladrões. E para corroborar o que diz, e chamar mentiroso na cara de quem disse tanta mentira, quer uma acareação.
E o nosso visitante iria absorvendo tudo...
Sobre outro dos mais mediatizados casos dos últimos dias, vem um e diz num "mail", que o primo é primo, e por via disso consegue uma reunião importante, vem outro e diz que o filho do tio, que será ou não primo na opinião dele, não tinha o direito de o ter feito e que ele até nem sabia que isso tivesse acontecido. Vem o pai do filho do tio e diz que telefonou ao sobrinho para marcar uma reunião com os promotores de um empreendimento que era preciso licenciar, e que essa reunião foi efectuada. Vem o sobrinho e diz que isso não é verdade, que ele foi a uma reunião, sim, mas a pedido de um autarca. Começam a correr rumores de que foram pagos quatro milhões de eurospara que o licenciamento se efectuasse em tempo record. Todos negam o recebimento dos milhões mas que o licenciamento foi feito em tempo mínimo, isso foi. O primo que não é primo, mas é filho do tio, foge para parte incerta, diz-se que para a China ou para o Nepal. Há quem saiba onde ele está mas não diz para que ele não fuja de novo para outro lado. Entretanto chega uma carta rogatória da polícia Inglesa que diz que o sobrinho é suspeito destas irregularidades e pede à polícia Portuguesa que investigue as contas bancárias. Sabe-se já há alguns dias que o sobrinho tinha sido ministro na altura dos acontecimentos. O nosso Primeiro, vem a terreiro defender a sua honra e diz que era ele o ministro da altura mas que tudo é uma mentira, uma cabala para o derrubar, mas que não é assim que ele cai, etc., etc., etc....
Ainda sobre esse assunto, vem um antigo dirigente partidário de direita, antigo pretendente à Presidência da República apoiado pela direita, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros do actual governo socialista, defender o nosso Primeiro, e atacar veementemente quem possa dizer que onde há fumo pode haver fogo.
E o nosso visitante iria absorvendo tudo...
Noutro caso muito badalado, ouve e lê que os professores do ensino secundário estão contra as vontades do governo e que fazem greves, e que não ensinam, e que a guerra com a ministra da Educação está para durar, enquanto os alunos sofrem.
Ainda sobre isso, ou paralelamente, o governo apresenta um relatório emanado da OCDE, que afinal não era da OCDE, mas de um grupo de entidades, de entre as quais uma reputada técnica da OCDE que afinal só tinha escrito e assinado o prefácio, documento esse que no fim de contas tinha sido encomendado pelo governo a esses peritos independentes, com base em alguns poucos relatórios que o governo tinha elaborado, para dizer bem da sua política educativa.
Sobre outros dos casos ultimamente muito falados ouviria o nosso visitante falar dos despedimentos de trabalhadores, às centenas, todos os dias, acompanhando de resto o que se passa por esse mundo fora. Vem o governo e diz que vai apoiar todas as empresas que puder e salvá-las do encerramento. Quantas já conseguiu? Nada que se veja! E o governo faz anúncios de ajudas e mais empresas anunciam o seu fecho. Nada que configure em alguns casos, aproveitamento da crise. Estão para breve mil e quinhentos desempregados aqui, duzentos ali, quatrocentos acolá, cento e oitenta mais abaixo, e os nossos governantes a dizer que vão salvar as empresas que puderem. A verdade é que não podem, mas convém ir dizendo que o vão fazer para adormecer o povo.
E o que faz o nosso povo? Que fazem os Portugueses? Nada! Vão ouvindo as palavras de quem nos governa, vão acreditando em tudo quanto lhes dizem, e mais nada. O engenheiro fala e o povo acredita e não reage. Estamos em ano de eleições e é preciso falar muito e bem, para acalmar toda a gente. E que bem que o homem fala!
E o nosso visitante não aguentaria mais e riria a bandeiras despregadas. Só mesmo para rir, este Portugal destes Portugueses.
E já nem valeria a pena falar com os habitantes. Estão mesmo todos atolambados!
Este nosso País, está um gozo!
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JM
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(in O Primeiro de Janeiro, 4-02-2009)
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