PERGUNTAS, RESPOSTAS, E TAMBÉM NÃO!
Tenho por hábito ouvir rádio.
Às vezes ouço, por entre outras músicas e outras falas, o debate quinzenal na Assembleia da República.
Nesta quarta-feira, não foi excepção.
Por entre uma ida ao café, para beber um cimbalino, a procura e audição de músicas noutras estações de rádio, e a leitura diagonal de um jornal diário, lá fui ouvindo, aos bocadinhos, partes das perguntas dos deputados, e das respostas do nosso Primeiro.
O governo tinha escolhido como tema para o debate desta semana, a economia.
De uma maneira geral, tanto nestes debates quinzenais, como no dia-a-dia que se vê e ouve no canal de televisão, Parlamento, a pobreza dos discursos e das ideias é evidente.
Nesta quarta-feira, não foi excepção.
Neste debate sobre a economia, que é um tema de enorme importância, em especial nos dias de hoje, com toda a crise que se vive mundialmente, ouve-se de tudo. Ouvem-se insultos e ataques pessoais, ouve-se propaganda, ouvem-se insinuações, vitimizações, aldrabices, enganos e ofensas, ouvem-se respostas sem que a resposta seja dada, truques e malabarismos de palavras, práticas enganosas, num rol imenso de situações, que transmitem uma imagem confrangedora e triste.
Espera-se nestes debates, ouvir propostas, sugestões e ideias para o combate nacional aos problemas que são de todos. Espera-se nestes debates, elevação nas palavras e nas ideias. Esperam-se nestes debates, iniciativas de trabalho em conjunto, para encontrar soluções.
Diz-se que quem espera sempre alcança, mas no caso dos políticos de Portugal, e em especial nos que são pagos por nós para resolver os nossos problemas, o melhor é esperar sentado, porque a espera é muito longa e as pernas não aguentam tanto sacrifício.
Nesta quarta-feira, não foi excepção.
É verdade que são todos muito educadinhos. Começam sempre por se dirigir ao Presidente da Assembleia e depois a todos os outros membros da câmara, dirigindo-se só então ao interlocutor directo, a quem chamam de “Vossa Excelência, senhor Deputado”, ou “senhor Primeiro Ministro” ou “senhor seja quem for”. O pior vem depois. É que a seguir ao epíteto excelência, vem o insulto, a mentira, a suspeição, só faltando mesmo a chamada à liça dos progenitores ou outros membros da família.
Nesta quarta-feira, não foi excepção.
As perguntas sucederam-se, umas às outras, sem que houvesse da parte do nosso Primeiro, uma resposta cabal a cada uma delas. Pelo menos assim foi considerada pelos interlocutores de cada vez que viam ser respondida qualquer questão que tinham posto.
Ouvi falar sobre campanhas azuis, vermelhas, laranjas e negras, falta de propostas, vergonhas, ataques cobardes, mentiras e por aí fora. Ouvi desaforos e insultos baixos, vindos de vozes perdidas no meio da câmara. Ouvi perguntas, mas poucas ou nenhumas respostas concretas às questões postas, sobre economia e suas soluções, a não ser a repetição exaustiva do que foi feito (e muito bem feito, segundo o nosso Primeiro) pelo governo até agora.
O Primeiro-ministro, é especialista em dar respostas compridas, minuciosas, pormenorizadas, sem responder a uma linha das questões que lhe foram postas.
Nesta quarta-feira, não foi excepção.
Para que serve e a quem serve este espectáculo?
Não serve para nada, e a mim, não serve com certeza!
Estou cansado desta gente.
(in O Primeiro de Janeiro, 16-02-2009)
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(Também publicado no Clube dos Pensadores, em versão reduzida, onde também poderá ler comentários)
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(
JM
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