sábado, 18 de outubro de 2008

METRO DO PORTO

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Metro do Porto


"Parece que somos um país rico"

Entrevista a Paulo Pinho, coordenador do estudo da FEUP para a expansão do Metro

Por Hugo Silva / JN
Paulo Pinho, coordenador do estudo da FEUP para a expansão do Metro, diz que a nova proposta do Governo está desequilibrada. Um plano do qual só teve conhecimento um dia antes da sua apresentação pública, apesar da FEUP ter a responsabilidade de conduzir tecnicamente o processo de expansão da rede. Pelo menos, assim definia o memorando de entendimento assinado entre o Governo e a Junta Metropolitana, como lembrou o professor.
Como analisa a proposta de expansão apresentada pela Empresa do Metro e pelo Governo?
Embora reconheça algumas melhorias pontuais, há aspectos que levantam, mais do que dúvidas, sérias reticências. Sinto que a proposta, globalmente, está desequilibrada, sobretudo em termos de organização do território.
Pode exemplificar?
Por exemplo, a linha circular nesta nova configuração é demasiado modesta, muito fechada sobre o núcleo central. Na prática, estamos a criar um troço demasiado próximo da esteira das linhas já existentes. Não se tira o máximo de capacidade em termos de captação. Há redundâncias e deixamos áreas muito a descoberto. Nós tínhamos procurado que o traçado da linha tentasse minimizar o efeito de separação criado pela VCI. E a nossa circular tinha uma outra vantagem: cruzava os três pólos universitários.
Teve alguma participação nesta nova solução?
Não tive nenhuma participação nesta nova solução. Aliás, algumas das linhas que foram agora propostas já tinham sido trabalhadas por nós anteriormente. E tínhamos considerado que não eram as mais adequadas.
E a polémica entre linha da Boavista e linha do Campo Alegre?
Nós tínhamos estudado a ligação pelo Campo Alegre. Estamos a falar de duas linhas que têm diferenças significativas. Desde logo, em termos de custos. Não percebo. Parece que somos um país extraordinariamente rico, onde abundam os recursos e que se pode dar ao luxo de ter ali [Avenida da Boavista] um canal que tradicionalmente foi ocupado por sistemas de transportes com carris e que agora… não. Vamos deixar e vamos por uma outra solução muito mais complexa e muito mais cara, que não tira partido daquilo que são as vantagens de um sistema metro de superfície. E não podemos esquecer que foi a Avenida da Boavista que abriu a cidade a poente. Tem uma força muito estruturante de todo o tecido envolvente.
A discussão centrada na Boavista quase faz esquecer linhas importantes como a segunda de Gaia.
É uma linha interessante. Mas também o traçado perdeu uma qualidade que o anterior tinha: não enfatizava apenas a dimensão longitudinal. Estava desenhado de tal forma que permitiria a longo prazo estender-se para nascente Oliveira do Douro e Avintes) e para poente (mar).
As ligações a Gondomar também mudaram.
Nós estudámos as ligações que estão agora a ser propostas e por algumas boas razões não as considerámos as mais adequadas. Nesta extensão até Rio Tinto, uma boa parte do percurso é redundante com a linha da CP. Não posso concordar. Quanto à ligação a Sul, eu compreendo a lógica - chegar à sede do concelho. Mas temos que ver o percurso. Naturalmente que a zona de Valbom tem todo o direito de ser servida, mas o problema verifica-se até chegarmos lá a partir de Campanhã. Mais uma vez, é uma solução que comporta o risco de nunca vir a ser executada.
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