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Dois pesos e duas medidas
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Em Fevereiro deste ano, a Universidade Católica publicava neste jornal um estudo de opinião que fazia o PS descer para os 39 por cento, pela primeira vez longe da maioria absoluta, e colocava o PSD a 7 pontos de distância (32%).
O JN titulava então essa sondagem de uma forma que achei injusta, mas não contesto: "Falta de credibilidade de Menezes afunda PSD".
Ontem, também no JN, a mesma sondagem periódica da Universidade Católica, mantém a mesma diferença entre PS e PSD, mas com o partido de José Sócrates com 41%, no limiar da maioria absoluta. A popularidade de Menezes, que justificava o título de Fevereiro era de 8,6%, a de ontem, de Manuela Ferreira Leite, era de 8 pontos percentuais! Com uma agravante, em Fevereiro somente 52% do eleitorado considerava que não havia alternativa ao Governo, agora esse valor subiu para 55%!
Ou seja, o anterior líder do PSD, apesar da campanha cerrada contra si vinda de todos os quadrantes, conseguiu melhor prestação que o "dream team" apresentado como salvador da pátria. Com uma diferença: o consulado do anterior líder, para além de permanentemente destroçado por um ruído ensurdecedor de impropérios e insultos, desenrolou-se com um primeiro-ministro imaculado, no auge do "glamour" da Presidência portuguesa da União Europeia, com a bandeira do défice controlado em alta, com as primeiras descidas de impostos a anunciar o fim da crise.
Em contraste, a actual liderança, além de apadrinhada e apoiada por tudo que é colunista politicamente correcto, usufruiu do desmoronar abrupto de toda a mitificação deste projecto maioritário: a contestação dos professores, a queda das previsões para o crescimento económico, o verão do recrudescimento "chicaguiano" da insegurança urbana, o aumento do desemprego e das tensões sociais, a inversão do movimento de equilíbrio das contas públicas, e, agora, a crise financeira e ameaça de recessão global.
Foi um maniqueísmo defensor de interesses obtusos e conservador que conduziu o PSD a este marasmo e o país à ausência de alternativas.
Há seis meses, Santana Lopes, "populista e incredível", não tinha condições para ser líder parlamentar, hoje, já tem todas as condições para ser o candidato com "estofo" para vencer António Costa.
Há seis meses, dois dias sem criticar o Governo eram demonstrativos de uma letargia indesculpável, hoje, um mês de dieta verbal, é a manifestação de uma providencial contenção intelectual.
Há seis meses, as propostas reflectidas e tornadas públicas, eram tidas como casuísticas, desinseridas de um projecto global coerente, que já deveria ter sido apresentado. Hoje, a ausência de propostas é camuflada com o argumento de que a Oposição existe para denunciar os erros do Governo e não para apresentar alternativas.
Há seis meses, abandonámos a liderança após termos condicionado o PS com a nossa negativa à realização do referendo ao Tratado de Lisboa, com o nosso não ao reconhecimento do Kosovo, com a apresentação de um polis social para dar resposta à situação de pré-rotura vivida nos bairros sociais das áreas metropolitanas, com o Projecto de Desenvolvimento Competitivo do Interior, com a proposta de progressiva harmonização fiscal ibérica, com o avanço do inquérito ao "processo" BCP, visando reforçar todos os instrumentos de supervisão bancária(!), com a aposta na proibição da publicidade na RTP, como forma de reforçar a independência e pluralismo dos grupos nacionais de Comunicação Social, com a defesa da separação progressiva, mas drástica, entre sector público e privado da Medicina, com a descentralização de novas competências nos municípios, com a reabertura do debate sobre a regionalização, etc.
Em escassos 100 dias, já ficou provado o embuste em que tantos alinharam. O silêncio disfarçado de táctico, que mais não traduz que a ausência de ideias e soluções. Da privatização da Caixa Geral de Depósitos proposta por António Borges, ao referendo à institucionalização dos casamentos homossexuais defendido por Mota Pinto, das declarações de disponibilidade para a liderança - no meio de umas flexões ginasticadas no seu escritório (!) - de Morais Sarmento, às banalidades grandiloquentes de Aguiar Branco, já assistimos a todo o tipo de bizarrias por parte desta direcção do PSD.
Esta direcção do PSD não tem possibilidades de convencer o país, com a agravante de que, em época de grandes incertezas como a que vivemos, o povo nunca troca o certo pelo duvidoso.
Os militantes do PSD não devem acomodar-se a este estado letárgico. O país reclama a sua acção. As incertezas deste momento histórico devem estimular a sua militância.
Os que assim pensam têm a obrigação de agir. Agora. Antes que seja tarde para o Partido e para Portugal.
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Em Fevereiro deste ano, a Universidade Católica publicava neste jornal um estudo de opinião que fazia o PS descer para os 39 por cento, pela primeira vez longe da maioria absoluta, e colocava o PSD a 7 pontos de distância (32%).
O JN titulava então essa sondagem de uma forma que achei injusta, mas não contesto: "Falta de credibilidade de Menezes afunda PSD".
Ontem, também no JN, a mesma sondagem periódica da Universidade Católica, mantém a mesma diferença entre PS e PSD, mas com o partido de José Sócrates com 41%, no limiar da maioria absoluta. A popularidade de Menezes, que justificava o título de Fevereiro era de 8,6%, a de ontem, de Manuela Ferreira Leite, era de 8 pontos percentuais! Com uma agravante, em Fevereiro somente 52% do eleitorado considerava que não havia alternativa ao Governo, agora esse valor subiu para 55%!
Ou seja, o anterior líder do PSD, apesar da campanha cerrada contra si vinda de todos os quadrantes, conseguiu melhor prestação que o "dream team" apresentado como salvador da pátria. Com uma diferença: o consulado do anterior líder, para além de permanentemente destroçado por um ruído ensurdecedor de impropérios e insultos, desenrolou-se com um primeiro-ministro imaculado, no auge do "glamour" da Presidência portuguesa da União Europeia, com a bandeira do défice controlado em alta, com as primeiras descidas de impostos a anunciar o fim da crise.
Em contraste, a actual liderança, além de apadrinhada e apoiada por tudo que é colunista politicamente correcto, usufruiu do desmoronar abrupto de toda a mitificação deste projecto maioritário: a contestação dos professores, a queda das previsões para o crescimento económico, o verão do recrudescimento "chicaguiano" da insegurança urbana, o aumento do desemprego e das tensões sociais, a inversão do movimento de equilíbrio das contas públicas, e, agora, a crise financeira e ameaça de recessão global.
Foi um maniqueísmo defensor de interesses obtusos e conservador que conduziu o PSD a este marasmo e o país à ausência de alternativas.
Há seis meses, Santana Lopes, "populista e incredível", não tinha condições para ser líder parlamentar, hoje, já tem todas as condições para ser o candidato com "estofo" para vencer António Costa.
Há seis meses, dois dias sem criticar o Governo eram demonstrativos de uma letargia indesculpável, hoje, um mês de dieta verbal, é a manifestação de uma providencial contenção intelectual.
Há seis meses, as propostas reflectidas e tornadas públicas, eram tidas como casuísticas, desinseridas de um projecto global coerente, que já deveria ter sido apresentado. Hoje, a ausência de propostas é camuflada com o argumento de que a Oposição existe para denunciar os erros do Governo e não para apresentar alternativas.
Há seis meses, abandonámos a liderança após termos condicionado o PS com a nossa negativa à realização do referendo ao Tratado de Lisboa, com o nosso não ao reconhecimento do Kosovo, com a apresentação de um polis social para dar resposta à situação de pré-rotura vivida nos bairros sociais das áreas metropolitanas, com o Projecto de Desenvolvimento Competitivo do Interior, com a proposta de progressiva harmonização fiscal ibérica, com o avanço do inquérito ao "processo" BCP, visando reforçar todos os instrumentos de supervisão bancária(!), com a aposta na proibição da publicidade na RTP, como forma de reforçar a independência e pluralismo dos grupos nacionais de Comunicação Social, com a defesa da separação progressiva, mas drástica, entre sector público e privado da Medicina, com a descentralização de novas competências nos municípios, com a reabertura do debate sobre a regionalização, etc.
Em escassos 100 dias, já ficou provado o embuste em que tantos alinharam. O silêncio disfarçado de táctico, que mais não traduz que a ausência de ideias e soluções. Da privatização da Caixa Geral de Depósitos proposta por António Borges, ao referendo à institucionalização dos casamentos homossexuais defendido por Mota Pinto, das declarações de disponibilidade para a liderança - no meio de umas flexões ginasticadas no seu escritório (!) - de Morais Sarmento, às banalidades grandiloquentes de Aguiar Branco, já assistimos a todo o tipo de bizarrias por parte desta direcção do PSD.
Esta direcção do PSD não tem possibilidades de convencer o país, com a agravante de que, em época de grandes incertezas como a que vivemos, o povo nunca troca o certo pelo duvidoso.
Os militantes do PSD não devem acomodar-se a este estado letárgico. O país reclama a sua acção. As incertezas deste momento histórico devem estimular a sua militância.
Os que assim pensam têm a obrigação de agir. Agora. Antes que seja tarde para o Partido e para Portugal.
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L.F.M.
* Presidente da Câmara de Gaia e ex-líder do PSD
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