A trapalhada segundo o PSD
O jeitinho para a autoflagelação que o PSD continua alegremente a mostrar é dos maiores mistérios da política portuguesa. Último episódio da tragicomédia: na semana em que o Governo apresenta o Orçamento de Estado, os social-democratas enredam-se numa polémica interna acerca da putativa candidatura de Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa.
Epílogo esperado: quando Manuela Ferreira Leite falou, ontem, do Orçamento já ninguém lhe deu ouvidos.
Este verdadeiro exemplo de como não fazer as coisas podia esconder uma estratégia - talvez a líder do PSD não tivesse grande coisa para dizer sobre o mais importante Orçamento de Estado dos últimos e dos próximos anos. Sucede que tinha. De modo que só pode acentuar-se a conclusão: esta á uma grande trapalhada.
Vale a pena historiar o processo. A Distrital de Lisboa do PSD (a mesma que achou, há uns tempos e num momento hilariante, que Alberto João Jardim devia ser o candidato do partido a primeiro-ministro) sufragou esta semana o nome de Santana Lopes. Fê-lo sem Manuela Ferreira Leite ter dito claramente que Santana é a sua opção para capital. Ou seja: passou a ideia de que estava a empurrar o processo com a barriga. Na terça-feira, ao contrário do que estaria previsto, a Comissão Política Nacional não abordou a candidatura a Lisboa. Isto é: passou a ideia de que a escolha não é pacífica. Anteontem, na SIC-Notícias, Pacheco Pereira (um dos ideólogos mais ouvidos por Manuela Ferreira Leite) deu pancada da grossa em Santana. A coisa, como está bom de ver, não há-de acabar por aqui...
O que é que isto evidencia? Três coisas: Manuela Ferreira Leite é politicamente tenrinha, o que há-de custar-lhe o cargo mais depressa do que ela imagina. Santana Lopes continua a incomodar muita gente. Mais importante do que as precedentes: o PSD, este PSD, continua a mostrar uma lamentável falta de estaleca como principal partido da Oposição.
E isso deve importar-nos? Deve. Exemplo: a presidente do PSD acusou ontem o Governo de vender ilusões e de ter apresentando o pior Orçamento de sempre em termos de transparência, construído a partir dos resultados que queria anunciar. "Este é um momento em que se exige dos responsáveis que falem verdade em vez de venderem ilusões", declarou Manuela Ferreira Leite, numa delicadíssima aproximação semântica ao discurso que o presidente da República fez nas comemorações do 5 de Outubro ("O que é vivido pelos cidadãos não pode ser iludido pelos agentes políticos" e "quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar", disse então Cavaco Silva). Era isto que devia ter marcado a agenda política. Não marcou. Por culpa de quem? Do PSD.
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Preto no Branco
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