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NO JN
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Não pode valer tudo
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RUI RIO,
RUI RIO,
presidente da Câmara e da Junta Metropolitana do Porto
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No tempo em que os homens tinham honra, um simples aperto de mão selava um acordo. Hoje, nem a assinatura de um ministro, na presença do primeiro-ministro
Em Maio de 2007, o Governo e a Junta Metropolitana do Porto (JMP) assinaram um acordo em que o ministro Mário Lino exigiu nomear a maioria do Conselho de Administração e, por contrapartida, comprometeu-se a avançar, desde logo, com a expansão do metro do Porto. A JMP teve de aceder a essa exigência do Governo, já que não tem - nem de longe, nem de perto - meios financeiros que possam sustentar o projecto.
Ficou, assim, solenemente assinado, na presença do primeiro-ministro, José Sócrates, que a primeira parte da linha de Gondomar e a extensão a Santo Ovídeo avançavam de imediato. E que, para o resto, se iria fazer um grande concurso, até - o mais tardar - Junho de 2008. Concurso que incluiria a extensão à Trofa, uma linha que servisse Matosinhos Sul e a zona ocidental do Porto, a segunda parte de Gondomar, o prolongamento no concelho de Gaia e, eventualmente, uma outra ligação adicional entre o Porto e Matosinhos. Entretanto, ir-se-ia estudar a terceira fase, planeando, dessa forma, o futuro a tempo e horas.
Acordou-se, também, que o trajecto da linha pela zona ocidental seria determinado por um estudo da Faculdade de Engenharia (FEUP) e que essa, tal como a da Trofa, até poderia avançar em concurso autónomo se o traçado viesse a passar pela Avenida da Boavista e se o tal grande concurso não fosse lançado na data prevista.
Chegados a Setembro de 2008, nada do que está escrito tinha sido ainda cumprido, a não ser a conclusão do estudo da FEUP e a nomeação de mais gente da confiança do Governo para a Administração da empresa.
Perante os protestos da JMP, Mário Lino resolveu, então, vir ao Porto para, pura e simplesmente, dizer que não ia cumprir o que assinou.
Não teve coragem de o dizer frontalmente. Optou pela forma tradicional de enganar o povo: agitou um conjunto de belas fotocópias, anunciou muitos milhões de euros e prometeu imensos quilómetros de metro para tudo quanto é lado.
Pelo caminho, fez passar a ideia de que o único problema era o presidente da Câmara do Porto, que queria, a todo o custo, uma linha na Boavista, coisa que ele não iria fazer, apesar de, por força das conclusões do estudo da FEUP, ela estar assumida no acordo que o Governo assinou em Maio do ano passado.
A Boavista fica melhor sem metro - Desde que cheguei à Câmara do Porto, nunca simpatizei com o metro na Boavista. Procurei evitá-lo ao máximo, porque entendo que a avenida fica muito mais bonita e aprazível se for requalificada com amplos passeios e forte arborização, em vez de ter as carruagens a ocupar uma parte substancial da sua superfície, e ainda a necessária trincheira que permita o seu enterramento para a ligação ao sistema. Acresce que, para o desenvolvimento do próprio Circuito da Boavista, também é preferível não ter os carris a circular pelo meio.
Só que os estudos (sérios!) apontam para a necessidade da Avenida da Boavista ter de ser usada para fazer a ligação a uma linha circular dentro da cidade do Porto, que é a solução estrutural para conseguirmos coser e equilibrar todo o projecto. E foi-me referido que eu não tinha o direito de condicionar todo um sistema metropolitano, apenas porque queria proteger, do ponto de vista urbanístico, uma avenida da minha cidade, por mais importante que ela possa ser, ou por mais afecto que eu possa ter por ela e pela zona onde vivo há mais de 40 anos.
Porque a questão não é a Boavista. Se fosse apenas isso - uma linha a subir e a descer a avenida - ela perdia claramente para um trajecto pela Foz e pelo Campo Alegre. A questão é a necessidade de fazer uma linha circular enterrada, em que a avenida é utilizada para fazer a ligação a Matosinhos, tal como o eléctrico a fez, com êxito, durante largas dezenas de anos. E eu reconheço que, efectivamente, não tenho o direito de inviabilizar essa solução fundamental para a eficácia e o equilíbrio deste importante projecto metropolitano. Principalmente, porque ela também abre caminho à requalificação da Avenida da Boavista, que não pode continuar na vergonha em que, há anos, se encontra. Apesar de, repito, em minha opinião, ela poder ser mais bem requalificada sem o canal do metro.
Aliás, que deve a Câmara fazer, nesta matéria? Requalifica, prevendo o metro para agora, ou para daqui a 20 anos, como diz a Comissão Executiva da empresa? Ou requalifica sem prever o metro e mais tarde destrói o que foi feito para acomodar esse meio de transporte? É óbvio que para aquela gente o respeito pela cidade do Porto não é coisa que muito os preocupe.
Desrespeita-nos, porque há quem não se dê ao respeito - A opção do Governo foi não cumprir a palavra e deitar os estudos técnicos da FEUP ao balde do lixo. A opção foi, uma vez mais, pelo pior que a política tem. E pelo desrespeito pelo dinheiro dos contribuintes, que vêem os seus impostos desbaratados por quem tem fraca dimensão ética e política e os utiliza para guerras mesquinhas.
O que temos na nossa frente é grave. Um Governo que não cumpre o que assinou. Uma Comissão Executiva da Metro que escondeu dos administradores nomeados pela JMP o que andou a "cozinhar" com esse mesmo Governo. Um arrastar do projecto para o infinito. E uma ofensa miserável à dignidade de todos nós, que temos orgulho nas nossas cidades e no projecto do metro do Porto.
No tempo em que os homens tinham honra, um simples aperto de mão era o suficiente para selar um acordo. Hoje, nem a assinatura de um ministro, na presença do primeiro-ministro.
Infelizmente, não tem faltado quem, aqui no Norte, tenha batido palmas a esta falta de respeito e de palavra. Acho, no entanto, que não é difícil de perceber que só nos tratam desta maneira, precisamente, porque também há cá gente que, comportando-se servilmente, não se dá, ela própria, ao respeito.
Defender os interesses das populações que nos elegem não é berrar demagogicamente contra Lisboa a toda a hora e a todo o momento. Defender os interesses do Porto é nunca pactuar com quem ousar tratá-lo de forma desadequada ao respeito que lhe é devido.
No tempo em que os homens tinham honra, um simples aperto de mão selava um acordo. Hoje, nem a assinatura de um ministro, na presença do primeiro-ministro
Em Maio de 2007, o Governo e a Junta Metropolitana do Porto (JMP) assinaram um acordo em que o ministro Mário Lino exigiu nomear a maioria do Conselho de Administração e, por contrapartida, comprometeu-se a avançar, desde logo, com a expansão do metro do Porto. A JMP teve de aceder a essa exigência do Governo, já que não tem - nem de longe, nem de perto - meios financeiros que possam sustentar o projecto.
Ficou, assim, solenemente assinado, na presença do primeiro-ministro, José Sócrates, que a primeira parte da linha de Gondomar e a extensão a Santo Ovídeo avançavam de imediato. E que, para o resto, se iria fazer um grande concurso, até - o mais tardar - Junho de 2008. Concurso que incluiria a extensão à Trofa, uma linha que servisse Matosinhos Sul e a zona ocidental do Porto, a segunda parte de Gondomar, o prolongamento no concelho de Gaia e, eventualmente, uma outra ligação adicional entre o Porto e Matosinhos. Entretanto, ir-se-ia estudar a terceira fase, planeando, dessa forma, o futuro a tempo e horas.
Acordou-se, também, que o trajecto da linha pela zona ocidental seria determinado por um estudo da Faculdade de Engenharia (FEUP) e que essa, tal como a da Trofa, até poderia avançar em concurso autónomo se o traçado viesse a passar pela Avenida da Boavista e se o tal grande concurso não fosse lançado na data prevista.
Chegados a Setembro de 2008, nada do que está escrito tinha sido ainda cumprido, a não ser a conclusão do estudo da FEUP e a nomeação de mais gente da confiança do Governo para a Administração da empresa.
Perante os protestos da JMP, Mário Lino resolveu, então, vir ao Porto para, pura e simplesmente, dizer que não ia cumprir o que assinou.
Não teve coragem de o dizer frontalmente. Optou pela forma tradicional de enganar o povo: agitou um conjunto de belas fotocópias, anunciou muitos milhões de euros e prometeu imensos quilómetros de metro para tudo quanto é lado.
Pelo caminho, fez passar a ideia de que o único problema era o presidente da Câmara do Porto, que queria, a todo o custo, uma linha na Boavista, coisa que ele não iria fazer, apesar de, por força das conclusões do estudo da FEUP, ela estar assumida no acordo que o Governo assinou em Maio do ano passado.
A Boavista fica melhor sem metro - Desde que cheguei à Câmara do Porto, nunca simpatizei com o metro na Boavista. Procurei evitá-lo ao máximo, porque entendo que a avenida fica muito mais bonita e aprazível se for requalificada com amplos passeios e forte arborização, em vez de ter as carruagens a ocupar uma parte substancial da sua superfície, e ainda a necessária trincheira que permita o seu enterramento para a ligação ao sistema. Acresce que, para o desenvolvimento do próprio Circuito da Boavista, também é preferível não ter os carris a circular pelo meio.
Só que os estudos (sérios!) apontam para a necessidade da Avenida da Boavista ter de ser usada para fazer a ligação a uma linha circular dentro da cidade do Porto, que é a solução estrutural para conseguirmos coser e equilibrar todo o projecto. E foi-me referido que eu não tinha o direito de condicionar todo um sistema metropolitano, apenas porque queria proteger, do ponto de vista urbanístico, uma avenida da minha cidade, por mais importante que ela possa ser, ou por mais afecto que eu possa ter por ela e pela zona onde vivo há mais de 40 anos.
Porque a questão não é a Boavista. Se fosse apenas isso - uma linha a subir e a descer a avenida - ela perdia claramente para um trajecto pela Foz e pelo Campo Alegre. A questão é a necessidade de fazer uma linha circular enterrada, em que a avenida é utilizada para fazer a ligação a Matosinhos, tal como o eléctrico a fez, com êxito, durante largas dezenas de anos. E eu reconheço que, efectivamente, não tenho o direito de inviabilizar essa solução fundamental para a eficácia e o equilíbrio deste importante projecto metropolitano. Principalmente, porque ela também abre caminho à requalificação da Avenida da Boavista, que não pode continuar na vergonha em que, há anos, se encontra. Apesar de, repito, em minha opinião, ela poder ser mais bem requalificada sem o canal do metro.
Aliás, que deve a Câmara fazer, nesta matéria? Requalifica, prevendo o metro para agora, ou para daqui a 20 anos, como diz a Comissão Executiva da empresa? Ou requalifica sem prever o metro e mais tarde destrói o que foi feito para acomodar esse meio de transporte? É óbvio que para aquela gente o respeito pela cidade do Porto não é coisa que muito os preocupe.
Desrespeita-nos, porque há quem não se dê ao respeito - A opção do Governo foi não cumprir a palavra e deitar os estudos técnicos da FEUP ao balde do lixo. A opção foi, uma vez mais, pelo pior que a política tem. E pelo desrespeito pelo dinheiro dos contribuintes, que vêem os seus impostos desbaratados por quem tem fraca dimensão ética e política e os utiliza para guerras mesquinhas.
O que temos na nossa frente é grave. Um Governo que não cumpre o que assinou. Uma Comissão Executiva da Metro que escondeu dos administradores nomeados pela JMP o que andou a "cozinhar" com esse mesmo Governo. Um arrastar do projecto para o infinito. E uma ofensa miserável à dignidade de todos nós, que temos orgulho nas nossas cidades e no projecto do metro do Porto.
No tempo em que os homens tinham honra, um simples aperto de mão era o suficiente para selar um acordo. Hoje, nem a assinatura de um ministro, na presença do primeiro-ministro.
Infelizmente, não tem faltado quem, aqui no Norte, tenha batido palmas a esta falta de respeito e de palavra. Acho, no entanto, que não é difícil de perceber que só nos tratam desta maneira, precisamente, porque também há cá gente que, comportando-se servilmente, não se dá, ela própria, ao respeito.
Defender os interesses das populações que nos elegem não é berrar demagogicamente contra Lisboa a toda a hora e a todo o momento. Defender os interesses do Porto é nunca pactuar com quem ousar tratá-lo de forma desadequada ao respeito que lhe é devido.
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