quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ATÉ DE AQUI A UM ANO

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ACABOU O TORMENTO

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O País vai regressar à normalidade de sempre. Vamos regressar à nossa miséria, à nossa fome, à nossa corrupção.

Os fazedores de promessas vão de novo desiludir-nos e não as irão cumprir.

Os problemas da educação, da justiça e da segurança vão voltar em força, embora não seja certo que se vá falar deles para os resolver.

Os noticiários irão mais uma vez, e diariamente, falar de mortes, de guerras, de fome e de doença, entrando sem cerimónia e com toda essa violência em nossas casas, às horas das refeições, não se importando com o facto de crianças de todas as idades estarem normalmente a assistir, e esquecendo nos próximos tempos (não mais de doze meses, já que teremos mais do mesmo para a Presidência da República antes do fim de 2010), a refeição de eleitoralismo que durante meses nos serviram.

Durante o período que se aproxima, irão desaparecer as sondagens para todos os gostos e feitios, e regressarão em força os resultados do futebol, o frio e a chuva e as cores com que coloriram os alertas da Protecção Civil. Deixaremos de ver líderes partidários a abraçarem e a beijarem tudo e todos, e regressarão, pelas mãos dos mesmos, os actos sóbrios, sem música de feira em altos berros. O novo governo vai gozar de um período de sossego, até que seja preciso fazer alguma aliança. Deixaremos de ouvir falar dos pobrezinhos, dos desempregados, dos desamparados, bem assim como de terras e terrinhas que voltarão ao seu costumeiro anonimato. Vão parar ou mesmo desaparecer as obras ainda em curso, que foram feitas à pressa para as eleições, assim como desaparecerá o fingimento de alguns, que se mostraram durante meses cuidadosamente preocupados com as inquietações dos outros.

Acabaram as eleições. Foram três. Vamos ter novo Governo, novos Deputados, novos Presidentes de Câmara, novas Assembleias e mais coisas novas de todos os géneros, e daqui para a frente, e por causa de tudo isto, o nosso País, que até aqui estava muito mal, vai ficar rigorosamente na mesma

Vamos voltar a ter uma paz podre, e a esquecer os males do nosso País, até às campanhas para as próximas eleições, no princípio de 2011. Nessa altura tudo voltará a ser o que foi durante mais de um semestre deste ano.

Durante os próximos doze meses, o tormento em que vivemos os últimos seis, vai acabar.

(Enorme suspiro!)


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(In O Primeiro de Janeiro, 13-10-2009)


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JM

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1 comentário:

  1. As mesmas mãos que serviram para cumprimentar o eleitor pouco esclarecido vão ser utilizadas para os asfixiar.

    De igual modo, as botas que serviram para calcorrear ruas e ruelas, à procura do voto do cidadão incauto, irão ser utilizadas para pisar os seus escassos direitos.

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