DIA DE S. JOSÉ – CARTA A MEU PAI
Meu Pai,
Por certo te encontras já à vontade, entre os anjos e os arcanjos, sempre com esse teu sorriso estampado no rosto, cheio de amigos, bons conversadores como sempre foste.
Certamente, não terás saudades do tempo que cá passaste, cheio de privações, cheio de trabalho, rodeado de mentiras e traições, anónimo para o mundo, que nunca viu nem soube ver ou apreciar as qualidades humanas que tinhas, e que faziam com que para ti, todos sem qualquer excepção, fossem bons. Mas não o viam por culpa tua. É que nunca bateste com as portas, nem mandaste seja quem for à m…..
As saudades ficaram deste lado. Fazem-me falta as tuas brilhantes conversas, os teus conselhos sábios, a tua calma e discernimento, a tua visão esclarecida do mundo, a tua exigência construtiva, a tua presença e o teu amor. Foste tudo o que um filho poderia esperar de um óptimo e maravilhoso pai. Dói-me pensar que provavelmente não te terei dado tudo o que merecias e a que terias direito.
A morte chegou antes de tu partires. Durante muito tempo passeou por ti, roendo-te a pouco e pouco, de modo a libertar-te de um sofrimento posterior, limpando-te de algum mal que pouco provavelmente tivesses feito. Foi tua companheira meses a fio, a ponto de se confundir contigo, e, quando isso aconteceu, quando te amou de verdade, levou-te suavemente em seus braços, apesar da tua luta. Por momentos pairaste no ar, olhaste cada um de nós bem no fundo dos olhos, e partiste, sabendo que estarias para sempre vivo em nós.
Um consolo. Tendo partido tão discreto e ignorado como viveste, vieram os teus amigos, muitos, um mar deles, despedirem-se de ti, e alguns outros, porque família, cumprir a obrigação. Depois, ficou para sempre a lembrança saudosa, para quem te conheceu e te amou de verdade. Tantos anos passados, embora pareça ter sido ontem, continuas presente nas conversas de muitas e muitas pessoas que te não esquecem, que repetem as tuas frases e citações, contam as tuas histórias, seguem ainda hoje os teus concelhos.
Hoje, fazes indelevelmente parte da nossa história.
Vida fora tu correste
Passo lento, certo e seguro
Nunca foste uma alma errante
Eras fácil de encontrar
Agora que já morreste
De ti digo e asseguro
Nem todo o bom mareante
Se encontra no alto mar.
Agora és rio
Ès calma
Nada te fere ou ofende
Já não tens frio
É branca e pura
A brisa que afaga a tua alma
E te acaricia com doçura
Transparente.
Já nada nos separa
Aguarda por mim tranquilamente
És eterno, eu só estou de passagem
Vou ter contigo, repara
E nesse dia por fim
Espera por mim
E enquanto o relógio não pára
Guarda-me um lugar para a viagem.
.
(In O Primeiro de Janeiro, 19-03-2009)
.
JM
.
Feliz Dia do Pai, papá!..bjinhos
ResponderEliminarParabéns, J.M.,
ResponderEliminarSó quem vive ou viveu este amor tão importante entre pai e filho, consegue entender a grandiosidade do que escrevestes.Senti uma saudade enorme de meu papito, que também está em outra esfera. Beijo no coração, Koka.
Papá, aproveita a data para escrever um post sobre os teus queridos filhos!! :)
ResponderEliminarAbraço José.
ResponderEliminarO meu grande e querido Pai aquele meu Amigo está certamente junto do teu também.
Estou a escrever estas palavras e a água cobre-me o rosto.
Bonita e sentida esta tua mensagem.
Abraço Amigo
José Modesto