sexta-feira, 20 de março de 2009

NO BLOCO DE NOTAS

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Ao longo das últimas décadas, o Porto tem tido a felicidade de contar com uma mão-cheia de bons bispos. Homens que, normalmente, vão para além da administração das coisas religiosas e da promoção, desenvolvimento e acompanhamento de uma ou outra obra social.

Muitas vezes ajudam a pensar a região e a segunda cidade do país, agitando as, pontuais, águas pantanosas em que vivemos.

Porto_cidade

O actual Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, leva cerca de dois anos no cargo mas já deu mostras de querer seguir a tradição dos ‘pensantes’. Isso é bom. Na noite de ontem, quarta-feira, numa conferência sobre “A dinâmica da sociedade civil do Porto” (eu nem sabia que a Invicta tinha sociedade civil, quanto mais dinâmica), integrada na série Olhares Cruzados Sobre o Porto, organizada pelo jornal Público e pela Universidade Católica, disse que o Porto “tem a vantagem de nunca ter sido capital, o que faz com que a cidade se garanta a si própria e dependa de si mesmo”. “O Porto é muito mais autodefinido do que Lisboa”, salientou D. Manuel Clemente.

A administração estratégica, para lá da rotina do dia-a-dia, não existe. Cada município está feliz no seu cantinho, a brincar com as pequenas coisas, numa espécie de “The Sims” para os crescidos. De projectos comuns e ideias de coordenação, com poucas e honrosas excepções, nem vale a pena falar. Por falta de vontade, de querer, de saber ou, ainda pior, por invejas e egoísmos, a cidade e a região lá vão caminhando. Mas é um percurso trôpego, com muitos tropeções e demasiadas quedas.

Não ser a capital, concordo, é uma vantagem. Basta ir a Lisboa para perceber isso. Não sei é onde está a sua melhor autodefinição. Como não sei qual é o rumo que pode garantir a autodependência.

Hoje, a cidade e a região mais parecem uma manta de retalhos que uma união de vontades e interesses. A fórmula de gestão do aeroporto parece ser, por estes dias, a única coisa que faz levantar de manhã a Junta Metropolitana do Porto. Demais, há um deserto enorme. Nem num instrumento determinante para a mobilidade da região há um debate sério e busca de consensos. A linha do metro para Gondomar, que deveria ter entrado na primeira fase do projecto, só agora começa a ser executada. Nada de mais, só tem 10 anos de atraso.

A administração estratégica, para lá da rotina do dia-a-dia, não existe. Cada município está feliz no seu cantinho, a brincar com as pequenas coisas, numa espécie de “The Sims” para os crescidos. De projectos comuns e ideias de coordenação, com poucas e honrosas excepções, nem vale a pena falar. Por falta de vontade, de querer, de saber ou, ainda pior, por invejas e egoísmos, a cidade e a região lá vão caminhando. Mas é um percurso trôpego, com muitos tropeções e demasiadas quedas.

A transferência das sedes dos bancos do Porto para Lisboa fez quase desaparecer o peso económico de uma balança cada vez mais desequilibrada. Daqui até à saída da bolsa foi um instantinho. A indústria está em queda desde que os fundos de apoio do passado serviram, sobretudo, para melhorar a frota automóvel e comprar uns néons novos, em vez de uma séria reestrutura tecnológica e uma digna formação técnica dos funcionários. Nem os milhões de outros quadros de financiamento chegaram para lamber as feridas abertas. É certo que, neste aspecto, o panorama melhorou, mas perderam-se anos, empresas e empregos. A ‘capital do trabalho’ também mudou para a capital e arredores. No Porto e no Norte trabalha-se muito ainda, nalguns casos também muito bem, mas os índices mostram que a maior produtividade já não mora aqui. Não sou eu que o digo, são os números. Que, como todos sabemos, são como o algodão.

De peso mediático nem vale a pena falar. No passado os autarcas do norte ainda eram ouvidos sobre os grandes projectos nacionais e, vejam lá, até sobre o orçamento de Estado se lhes pedia uma palavrinha. Hoje não há nenhuma televisão nacional que os queira ouvir. A não ser que haja chatices e problemas. O local dos jornais pouco mais é que um pequeno repositório do labor dos municípios e pouco mais, fazendo lembrar uma qualquer gazeta oficial.

O Porto, cidade e região, definha progressivamente. O norte, seguindo os traços da sua capital, acompanha esse processo. Nós, os portuenses, os nortenhos, orgulhosos da nossa história, da nossa Invicta e do patrimónios mundial tão desgraçadamente aproveitado, felizes por pertencermos à mais bela região do país, onde há montanhas, rios, planícies, praias, o vinho do Porto, uma gastronomia invejada e maternidade de grandes personalidades das artes, continuamos a assistir a esse definhamento.

Nós, que debatemos em blogues, colóquios, artigos de jornal, não batemos palmas mas permanecemos passivos e, volta e meia, lá ficamos contentes por pequenas – ou grandes – vitórias pontuais. Porque o FC Porto volta a ser melhor que os outros (o que não é normalmente difícil), porque o Manoel de Oliveira fez 100 anos, porque o Carlos Tê e o Rui Veloso fizeram o “Porto Sentido” que é mais bonito que o “Lisboa menina e moça”, porque temos a Red Bull Air Race e os outros não, ou simplesmente porque sim.

Desta forma, não vamos sair da cepa torta.

P. S. Mais uma das tais vitórias: O FC Porto passa a ser o único clube português nos “Classic Clubs” da FIFA. (ver a lista AQUI)


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