A IGNORÂNCIA DESCULPABILIZADORA
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Vários doentes cegaram após tratamento oftalmológico com Avastim.
Depois da Farmacêutica ter vindo a público dizer que no princípio do ano tinha enviado aos hospitais Portugueses uma circular a dizer que o medicamento não era recomendado para tratar problemas dos olhos, e de mesmo assim, continuar a ser administrado as doentes de oftalmologia, já começaram as reacções.
Eu não sei de nada! Não tenho conhecimento da circular. Ouvi falar da carta mas nunca a vi. Por todo o mundo se aplica o medicamento nestes tratamentos. Aplica-se em casos semelhantes, em milhares de doentes e não há notícia destes acontecimentos. Não é comigo! Só faço o que me mandam! Nunca ouvi dizer que o Avastim fizesse mal.
Todos sacodem a água do capote. Ninguém é responsável por nada. Ninguém sabe de nada. Ninguém é culpado do que quer que seja.
O certo é que o Avastim pode provocar problemas quando se usa para tratamentos oftalmológicos, podendo atingir a cegueira. E provoca. E provocou em vários doentes do Hospital de Santa Maria. Esses doentes cegaram, esperando-se que a falta de visão seja reversível.
A ANF, o Infarmed, a Farmacêutica Roche, a Ordem dos Médicos, o Hospital, os Enfermeiros, os ajudantes, o pessoal da limpeza e os trabalhadores indiferenciados, todos, mas mesmo todos, se puseram já fora de quaisquer suspeitas ou culpas.
O Hospital promete um relatório dentro de alguns dias.
O certo é que ninguém quer assumir responsabilidades, e, mais uma vez, a culpa vai morrer, solteirona.
A irresponsabilidade grassa no nosso País povoado de gente irresponsável, falando-se até já que guerras entre as Farmacêuticas podem estar por trás deste caso dos doentes de oftalmologia em risco de cegarem, sendo certo que não existem normas que definam o manuseamento de injectáveis. Outra das hipóteses aventadas pelos investigadores para este "caso", prende-se com a suspeita de sabotagem (ninguém se lembrou ainda de ter sido uma experiência ilegal que tenha corrido mal?). As investigações seguem também nesse rumo depois de terem recebido uma chamada telefónica anónima (só podia ser, o anonimato é uma arma terrível em uso demasiadas vezes em Portugal), que se suspeita ter origem no próprio hospital.
Mais uma vez, a culpa não será assacada a ninguém, prevendo-se que os relatórios finais sobre este caso, concluam ter-se tratado de um acidente infeliz.
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(In O Primeiro de Janeiro, 28-07-2009)
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JM
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Depois da Farmacêutica ter vindo a público dizer que no princípio do ano tinha enviado aos hospitais Portugueses uma circular a dizer que o medicamento não era recomendado para tratar problemas dos olhos, e de mesmo assim, continuar a ser administrado as doentes de oftalmologia, já começaram as reacções.
Eu não sei de nada! Não tenho conhecimento da circular. Ouvi falar da carta mas nunca a vi. Por todo o mundo se aplica o medicamento nestes tratamentos. Aplica-se em casos semelhantes, em milhares de doentes e não há notícia destes acontecimentos. Não é comigo! Só faço o que me mandam! Nunca ouvi dizer que o Avastim fizesse mal.
Todos sacodem a água do capote. Ninguém é responsável por nada. Ninguém sabe de nada. Ninguém é culpado do que quer que seja.
O certo é que o Avastim pode provocar problemas quando se usa para tratamentos oftalmológicos, podendo atingir a cegueira. E provoca. E provocou em vários doentes do Hospital de Santa Maria. Esses doentes cegaram, esperando-se que a falta de visão seja reversível.
A ANF, o Infarmed, a Farmacêutica Roche, a Ordem dos Médicos, o Hospital, os Enfermeiros, os ajudantes, o pessoal da limpeza e os trabalhadores indiferenciados, todos, mas mesmo todos, se puseram já fora de quaisquer suspeitas ou culpas.
O Hospital promete um relatório dentro de alguns dias.
O certo é que ninguém quer assumir responsabilidades, e, mais uma vez, a culpa vai morrer, solteirona.
A irresponsabilidade grassa no nosso País povoado de gente irresponsável, falando-se até já que guerras entre as Farmacêuticas podem estar por trás deste caso dos doentes de oftalmologia em risco de cegarem, sendo certo que não existem normas que definam o manuseamento de injectáveis. Outra das hipóteses aventadas pelos investigadores para este "caso", prende-se com a suspeita de sabotagem (ninguém se lembrou ainda de ter sido uma experiência ilegal que tenha corrido mal?). As investigações seguem também nesse rumo depois de terem recebido uma chamada telefónica anónima (só podia ser, o anonimato é uma arma terrível em uso demasiadas vezes em Portugal), que se suspeita ter origem no próprio hospital.
Mais uma vez, a culpa não será assacada a ninguém, prevendo-se que os relatórios finais sobre este caso, concluam ter-se tratado de um acidente infeliz.
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(In O Primeiro de Janeiro, 28-07-2009)
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JM
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