segunda-feira, 20 de julho de 2009

UMA GRIPE COMO OUTRAS

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PANDEMIA / LUCRO
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Vivemos uma altura das nossas vidas em que o lucro, os ganhos de dinheiro, os interesses económicos, e a publicitação do que interessa a alguns, nos comandam.
Por trás do medo induzido, por trás das doenças, movem-se interesses de tal modo grandes, que se torna difícil pensar que a vida que nos impõem possa ser diferente.
Desapareceram a crise económica mundial, a crise económica nacional (a crise de valores, da educação, do desemprego, da fome, etc.), a crise petrolífera e outras crises, quando apareceu a crise da Gripe dos porcos, que se convencionou chamar de A.
Esquecemo-nos dos milhares de pessoas, milhões até, que morrem diariamente, por esse mundo fora, vítimas de diarreia, malária, sarampo, pneumonia, fome e outras doenças. Para estas mortes desaparecerem em grande parte, bastaria que o mundo (OMS) se lembrasse de ministrar soro, ou/e vacinas baratas, e de alimentar minimamente esses desgraçados. Mas como vivem na sua maioria em África, e África não tem dinheiro para pagar, o melhor é nem nos lembrarmos disso.
Raramente se fala destes milhões de pessoas, que a solidariedade mundial poderia salvar com pequenos custos.
Mas fala-se, diariamente, em todos os noticiários das doenças da moda. Começaram, anos atrás, com a gripes das aves. Os jornais e televisões mundiais inundaram-nos de notícias, e de sinais de alarme. Era uma epidemia, a pior de todas! Movimentos mundiais, com custos elevadíssimos, trataram os doentes. Milhares de vacinas foram produzidas. Morreram 250 pessoas em todo o mundo no espaço de dez anos.
Agora diariamente fala-se da gripe dos porcos. Os produtores do Tamiflú, não têm mãos a medir para produzir o medicamento. Há milhares de infectados e meia dúzia de mortes. Os governos fazem encomendas de milhões de doses de uma nova vacina, a criar até ao fim deste ano, e a distribuir pela população. Agora já não temos uma epidemia, temos uma pandemia. Coisa horrorosa, e o pânico instala-se mundialmente, afectando toda a gente, com a economia a sofrer novo abalo. Só as farmacêuticas e os intermediários prosperam. Obtiveram e obtêm, com estas crises, as gripes das aves e a dos porcos, biliões de euros de lucros.
Enquanto o soro, as vacinas e a comida necessária para suster as mortes em África, provocadas pela a malária, a diarreia, o sarampo, a fome, etc., custariam uns milhões de euros e evitariam milhões e milhões de mortes, estes tratamentos e vacinas para estas novas gripes, custam milhares de biliões de euros, para tratar e evitar a morte a alguns milhares de pessoas.
E a gripe normal? A que nos afecta todos os anos, e que mata em todo o mundo meio milhão de pessoas por ano? Porque não tem o mesmo tratamento que estas duas, agora bem mediáticas? Será porque as farmacêuticas ganham pouco, ou mesmo muito pouco, com isso?
E o mediatismo das coisas está a ser aproveitado por toda a gente, governos inclusivé (e se calhar até, principalmente), para mostrar ao povo o quanto se importam e incomodam com as suas populações. E gastam o dinheiro dos contribuintes para que todos os vejam, assim, incomodados.
Em Portugal não é diferente. Diariamente a Ministra vem mostrar-se e dizer-nos o quanto de bem estão a fazer pela população, e dar-nos conta dos infectados com a gripe A. Não se fala de mais nada, nada mais existe no nosso país, digno de ser falado e mostrado. A histeria está instalada. Já se fala em encerrar escolas, creches e empresas, faltando falar na proíbição de comícios e encontros esclarecedores nas próximas campanhas eleitorais. As eleições estão próximas, o partido do governo está na mó de baixo e é preciso adormecer o povo. Esta doença é uma benesse para o nosso Primeiro, sendo mais uma ajuda para fazer esquecer os outros males.
As prevenções que se estão a tomar para o tratamento e prevenção da gripe A são mais que necessárias. Mas se esta gripe é assim tão terrível, como se anuncia por esse todo, porque é que a OMS não a declara um problema de saúde pública mundial e não se autoriza a fabricação de medicamentos genéricos para que seja combatida a mais baixo preço, e possam ser distribuídos pelas populações mais pobres, gratuitamente?
Quem ganha com isto tudo? Quem ganha com o pânico mundial, a não ser as farmacêuticas que detêm as patentes do Tamiflú, e os intermediários que o comercializam?
Vistas bem as coisas, a gripe A, é uma gripe como qualquer outra, aproveitada para gerar lucros cujos valores são obscenos.

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(In O Primeiro de Janeiro, 20-07-2009)

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JM
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