quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ANTI-GRIPAIS COMO IMPERIAIS

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Texto de opinião de Luís Campos e Cunha, antigo ministro do actual Governo PS, no jornal Público sobre como a questão da Gripe A é, afinal, uma moda de Verão:

Anti-gripais como Imperiais

«Visitei Nova Iorque em Agosto, comprei o New York Times (o meu jornal preferido) todos os dias e não me apercebi de nenhuma notícia sobre a gripe A. E estava atento. Nas conversas com amigos americanos que visitei, nunca apareceu o tema da gripe A e, quando eu propositadamente o trazia à baila, ficavam surpreendidos com a conversa. Em Londres passa-se exactamente o mesmo: ninguém fala do assunto. E noutras capitais importantes, onde tenho conhecidos e amigos, a gripe A é uma não-notícia.
Tacticamente, o Governo elegeu como problema um não-problema: a gripe A. É um não-problema porque mata menos que a gripe normal, mas foi útil. Por um lado, resolver um problema que não existe tem sucesso garantido. Por outro, seria sempre um "problema" que vinha de fora e o Governo nunca seria culpado. Tudo isto para gáudio dos jornalistas que não tinham assunto para o Verão e passaram a ter. Converteu-se a ministra da Saúde em ministra da gripe, que nos ensina a lavar as mãos e que descreve em público a situação clínica de pessoas hospitalizadas (que eu não quero, nem tenho o direito de saber). Houve mesmo editoriais a elogiá-la como óptima ministra e grande comunicadora (por contraponto a Correia de Campos). Quando isto se estava a esgotar, apareceu o ministro do Trabalho e a Concertação Social discutiu o assunto. Finalmente, surge a ministra da Educação ajudando a manter a gripe A na agenda dos jornais. Foi golpe de mestre: discutiu-se a gripe mas não os problemas do país no período pré-campanha. Funcionou tacticamente e acertou com o objectivo estratégico. Só não tenho a certeza de que o país tenha ganho. Mas as empresas farmacêuticas também ficaram a ganhar: todas as velhinhas deste país andam com frasquinhos para desinfectar as mãos quando não o fazem com a gripe sazonal, muito mais perigosa do que a gripe A. E os anti-virais venderam-se como imperiais em Verão tórrido


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